terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"Você foi feliz?"

Olhe para trás e aceite aquela pergunta-clichê que todos se fazem ao olhar para trás nessa semana do ano: "Foi um ano bom?". Olhe para trás e responda aquele velho bordão que você idealizou durante a virada do ano passado: "Cumpri minhas promessas?". Olhe para atrás: "Parei de fumar?", "Fiz mais exercícios?", "Estudei mais?", "Me empenhei no trabalho?", "Consegui um grande amor?", "Fui mais solidário?", "Fui feliz?".

Olho para trás. "Fui feliz?".

Chego ao final de 2008 com um diploma de jornalista embaixo dos braços, uma carreira que já contabiliza 3 revistas, sendo que em uma delas, pela primeira vez, fui considerado realmente equipe fixa, contratado. A revista que me abriu portas, sorrisos e muitos caminhos. No final do ano, a revista ainda não sabe se vai continuar ou não, e eu não sei se estarei na rua ou à frente dela novamente. Bom, então o tópico trabalho fica para 2009.

Chego até essa última semana tendo um ano maravilhoso dentro de casa, com poucas brigas, muito respeito, muita liberdade e muitas vitórias conquistadas. Meus pais ficaram mais unidos novamente, eu e minha irmã também, eu e meus pais também. Em questa casa di italianos, tute ben! Ponto para 2008.

Ah, o amor. Namorei pouco, beijei muito, conheci muita gente, me apaixonei, me envolvi, sofri, chorei, renasci, corri atrás, conquistei e fui conquistado, trepei, mas amor mesmo não fiz. O grande amor fica também para 2009, mas as experiências de 2008 foram bem válidas. E como foram!

Uma das grandes vitórias desse ano eu conto em três palavras: Driko, Markinhos e Bruna. Pela primeira vez em muitos anos me firmei num grupo forte de amigos, aqueles amigos de ligar de madrugadas, de chorar no ombro, de ter ataque de riso, de visitar casa toda semana, de tomar porre junto, cantar no trânsito, respeitar e ser respeitado e amar e ser amado e querer eternamente e ser querido da mesma forma. Esses três entraram definitivamente na minha vida e fizeram meu coração brilhar muito mais. Lógico, não foram os únicos: muitos amigos conheci em 2008 e sei que permanecerão por muitos e muitos anos, não haveria como citar todos aqui. Mas esses três são especiais. O campo das amizades foi a grande certeza deliciosa de 2008.

Teve a saúde que andou tudo bem. Teve as viagens que me fizeram conhecer Fortaleza e Belo Horizonte. Teve os bens materiais que me premiaram com máquina digital, roupas lindas e meu tão sonhado notebook que aqui vos escrevo a la carrie bradshaw. Teve martini. Teve conversas inesquecíveis em meu carro. Teve festinhas. Teve a maravilhosa presença de Madonna, um dos momentos mais incríveis em toda a minha vida. Teve tanta coisa boa.

"Eu fui feliz?". Fui, e como fui. E desejo a todos vocês, leitores fiéis, que desfrutem apenas de um único objetivo em 2009: sejam felizes! A felicidade norteia nossas vidas e ela pode ser garantida em simples momentos como o primeiro raio de sol batendo na buchecha após uma noite acampada na calçada do Credicard Hall esperando o dia para comprar os ingressos do show de Madonna. São momentos como esse que fizeram meu 2008 inesquecível. Feliz ano novo!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Rainha e eu

Foram 15 anos de espera. Quando ela veio pela primeira vez ao Brasil, eu tinha apenas 6 anos. Desconhia a verdadeira proporção de sua fama, de seu sucesso, de sua trajetória no universo pop. Fui crescendo ouvindo seus hits, fui amadurecendo vendos seus clipes, fui me desenvolvendo aprendendo suas letras. Quando, no meio desde ano, fiquei sabendo que Madonna voltaria ao Brasil, percebi que era a oportunidade da minha vida de estar ao lado de meu ícone da música, de participar do sonho que cultivei durante anos: assistir pessoalmente a um show da diva.

A partir de então foi iniciada toda a saga que aqui neste blog eu narrei: dias e noites na fila para comprar ingressos, ameaças de cambistas, amizades conquistadas, organização de listas, lágrimas mescladas com sorrisos. Foram 3 meses de muita ansiedade com os dois ingressos para shows do dia 18 e 20 de dezembro guardados a 7 chaves. E então os shows chegaram no país. Foram mais 7 dias dormindo na rua, acampando em barraca, usando banheiros públicos, tomando chuva e conhecendo pessoas maravilhosos. Tudo para estar ao lado dela.



Foi difícil, cansativo e sufocante, mas quando entrei correndo pelos corredores do Estádio do Morumbi e coloquei minhas mãos na grade do palco e percebi que dali a algumas horas Madonna estaria a 1 metro de distância de mim, neste momento, percebi que tudo havia sido válido. Mergulhei em lágrimas, em soluços, em um choro que desabafou tudo o que eu havia passado para estar lá. A felicidade e a emoção se misturaram às lágrimas do cansaço. Eu havia conseguido!



O show foi muito mais do que eu poderia ter imaginado. Perfeito, impecável, calculado em qualquer mínimo detalhe. Madonna é jovem, simpática, profissional. Ela apresentava uma luz e uma força que eu jamais havia encontrado em qualquer outra pessoa. Ela me olhava e eu ficava hipnotizado, com lágrimas nos olhos. Ela pedia para cantarmos, e nós cantávamos. Ela pedia para dançarmos, e nós dançávamos. Ela era a rainha da noite e nós seus fiéis súditos.

Dois shows e duas noites que ficarão na minha memória para o resto de minha vida. Ficam agora os amigos que lá fiz, as fotos que tirei e os vídeos que comprovam que Madonna esteve ao meu lado e que meu coração agora já não é mais o mesmo!



































terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Milagres natalinos

Muitas pessoas são verdadeiramente apaixonadas pela época de Natal, pelo colorido das luzes, pela animação da troca de presentes, pela reunião na ceia do dia 25, pelo incomparável espírito natalino. Outras simplesmente acham esta época a mais hipócrita do ano, com pessoas que fingem estarem felizes, fingem gostarem do próximo, fingem se preocuparem com suas famílias, mas logo ao passar da data a sensação de tristeza e desunião retorna. Há ainda aquelas que são diretas e objetivas: é apenas uma época para se celebrar o capitalismo. As mais religiosas vão pregar o verdadeiro espírituo de natal, no nascimento de Cristo e da renovação.

Eu, particularmente, tenho sensações bastante complexas nesta época. Fico completamente sensível (a ponto de chorar em todos os comerciais de fim de ano que passam na televisão), a ponto de olhar para as pessoas passeando pela Avenida Paulista e ter vontade de puxar assunto com todos, a ponto de me emocionar na tradição mais linda de São Paulo: a abertura da gigante árvore de Natal do Parque do Ibirapuera. Do tamanho de um prédio de 27 andares, todos os anos, em uma determinada época, acontece a maravilhosa abertura da árvore, com direito a apresentação de Hebe Camargo, público contagiante e queima de fogos:



Tudo bem, posso concordar com o grupo que fala da hipocrisia, que as pessoas só se unem nesta época, mas, quer saber? Que sejamos hipócritas então! Foi lindo, uma sensação indescritível, estar rodeado de famílias, de casais de namorados, de crianças, de idosos, de novinhos, todos com a mesma sensação, o mesmo espírito, todos gritando e felizes e dando gargalhadas e se abraçando pela simples presença de luzes de natal, pela singela presença de uma árvore de Natal, pela simplória queima de fogos. É preciso tão pouco, mas tão pouco, para as pessoas se inurem. E, no Natal, elas conseguem. E eu acho lindo! Quisera o mundo ser assim todos os outros 11 meses do ano!

domingo, 30 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna





Último capítulo

De um lado, os fãs de Madonna desesperados para que os cambistas não passassem a suas frentes. Do outro, os cambistas que fariam o que fosse necessário para conseguirem entrar primeiro que todos. Na rua, duas viaturas da polícia militar apreciando a confusão sem mover um só dedo. Indo de um lado para o outro, a imprensa, querendo cada simples detalhe para transformar o show de impunidade em audiência. Sentado, chorando, tive que dar entrevistas para a Reuters e para o SPTV da Globo. Só pensava “espero que todos consigam comprar seus ingressos e que ninguém se machuque”.



Não poderíamos fazer mais nada. Não haveria organização, não entraríamos tranquilamente, não usariam nossas senhas. O jeito foi grudar com todas as forças no portão. Tive tempo ainda de encontrar a assessora de imprensa da Time 4 Fun, chorando, descabelado, e pedir para que tudo ficasse bem. Ela, como não poderia não dizer, falou “tudo vai ficar bem”. Mas não ficou. Às 10 horas, os portões se abriram. Primeiro, os gestantes e idosos (impressionante como tantas velhinhas gostavam de Madonnas e como até mesmo um atestado de gravidez surgiu no meio da confusão). Depois, ao menos, conseguir ser o primeiro, e meu melhor amigo o segundo. Nos direcionamos às bilheterias e começou o incasável zigue-zague pelos cavaletes de ferro até chegar nas cabines. Eram por voltas de 50 fileiras que tivemos que percorrer.

Quando estávamos quase chegando, olhamos para trás e aí o cáos se instaurou. Os seguranças não conseguirem mater o portão semi-aberto e a multidão começou a invadir o estacionamento. As pessoas começaram a correr, a pular os cavaletes, a derrubá-los no chão. Pessoas cairam, foram pisoteadas. Guardas gritavam “não corram, não corram, vamos chamar a tropa de choque!”. Tropa de choque? Parecia piada ver meia dúzia de mulheres gritando para não correr, com suas camisetas “Em que posso ajudá-lo?”.

Cheguei a bilheteria e minhas mãos tremiam. Mal consegui escrever meu cpf numa folha q foi me dada e a solicitação de dois ingressos, meia-entrada, para os dias 18 e 20. Logo ao lado da bilheteria, havia uma grande placa informando que vários setores já estavam esgotados. Ou seja, a Time 4 Fun havia mentido ao dizer que as vendas de internet e fone não influenciariam nas vendas de bilheteria. Mais uma vez, os fãs haviam sido enganados.

Quando me direcionei a primeira bilheteria, eu tremia de emoção e de medo. Emoção por compras ingressos, medo porque dezenas de pessoas estavam me xingando, me insultando, dizendo que eu não tinha organizado nada, que só pensava em mim. Meu amigo virou para a multidão e disse “ele por acaso ganhou alguma coisa para fazer o que ele fez por vocês?”. É, era isso que eu queria falar, mas não conseguia. E então fui ameaçado de morte. “Lá fora, você é nosso, então é melhor você se esconder”, “se prepare quando for embora”, “toma cuidado lá fora”, foram algumas das frases que eu ouvi.

- Duas meias entradas, dia 18 e 20!
- Meia entrada acabou!
- Como acabou?!?!?! Vocês acabaram de abrir! Não pode acabar.
- Não sei explicar, acabou…


Entrei em pânico. Havia me programado com meus 600 reais para comprar para dois shows, e sem meia entrada eu só poderia ir em um. Muito triste e querendo sair logo dali, foi o que tive que fazer. Peguei o ingresso e sai correndo para o estacionamento e fiquei esperando meu amigo sair. Quando, encontrei com ele, ouvi a pior coisa que poderia ouvir no momento.

- Comprei minhas duas meias entradas, ebaaaaaa!

Cinco minutos depois de eu ter comprado meu ingresso, misteriosamente as meias entradas foram liberadas. Meu mundo acabou e nunca me sentitão mal em toda a vida. Eu chorava, desesperado, soluçava, não conseguia sequer falar. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Depois de tudo o que passei, por que meu Deus? CInco dias na fila para ter um erro bem na minha vez, o primeiro, e eu não conseguir meu objetivo. Eu chorava, meu peito doia, doia como nunca, meu sonho tinha sido manchado. Tentei conversar com a gerente das bilheterias e o que consegui ouvir foi “é, realmente deu um errinho na sua vez, não sei explicar, coisa de computador sabe, mas fique feliz, ao menos você irá ir em um show!”. Se não fosse pelo meu ataque de choro, talvez eu tivesse dado um soco em sua cara. A vontade era essa, mas as forças me impediam.

Fui vendo meus amigos voltarem das bilheterias todos felizes. Fui vendo os cambistas que me ameaçaram começarem a se aproximar. Fui vendo emissoras de televisão querendo me entrevistar. Fui vendo tudo girar. Fui vendo meu mundo desabafar de uma forma horrorosa. Fui vendo cambistas saindo com 10, 15 ingressos nas mãos. Fui vendo uma polícia não fazer nada. Fui vendo o perigo de ser pego no ponto de ônibus aumentar. Fui vendo algo que eu não queria ver.

Então tive que fugir. Escoltado dentro de um carro de um amigo que fiz na fila, tive que ir embora. O sonho havia acabado. Com um ingresso nas mãos, uma barraca na outra, muitas lágrimas no rosto e a sensação de ter vivido os melhores e os piores momentos na minha vida, o sonho estava acabando, os cinco dias que passei se tornariam passado, as pessoas que eu conheci não dormiriam mais ao meu lado, eu não faria mais reuniões para comunicar algo, eu não passaria mais noites em claro explicando sobre o acampamento.

Olhava pela janela do carro, em silêncio, com lágrimas pesadas nos olhos e não conseguia entender o que tinha acontecido. Não achava respostas, não achava explicações. Eu veria Madonna, mas não da forma que eu queria, em 2 shows. Mais uma vez a justiça falharia no Brasil, no lugar onde as pessoas mal intensionadas se dão muito bem, no lugar onde as pessoas que prezam pelo bem das outras são passadas paratrás. Cambistas venderiam seus ingressos futuramente por 3 mil reais e eu, cinco dias na fila, dando a cara a bater, não conseguiria nem ir aos dois shows que havia me programado, que havia guardado meu rico dinheirinho. Mas isso não ficaria assim, nada apagaria o que eu passei lá, nada mudaria a história. Nada apagaria minha saga “Na fila sem Madonna”



Ps: duas semanas depois, com muita determinação, coragem e senso de justiça, eu consegui trocar meu ingresso inteiro por duas meias entradas. A justiça pode ser falha, mas o amor de um fã é maior! Madonna, dia 18 e dia 20, tenho um encontro com você! Acampar para o show? É, quem sabe comece uma nova saga, quem sabe…


Na fila sem Madonna


Capítulo 18 – Penúltimo

A mistura de sono, cansaço e excitação dominava todos na fila, principalmente no pelotão da frente, com pessoas que há vários dias estavam naquele acampamento. Pela última vez, desmontaríamos as barracas, pela última vez organizaríamos a fila, pela última vez viveríamos todos juntos. Precisou de meia hora para que todas as barracas estivessem já em suas respectivas sacolas e para que uma pilha gigante de lixo (comidas, bebidas, papéis e tudo o que acumulara durante aqueles 5 dias) se formasse.

Mas, a organização, que até então fora impecável, que conseguira fazer uma lista limpa, justa, começaria então a passar pelo pior momento de toda a saga, estava próximo dos desfecho nada triunfante. De meros figurantes, os cambistas invadiram o posto de protagonistas da história e resolveram se pronunciar. Embora tentássemos colocar a fila, agora sem barracas, na ordem da lista, como sempre havíamos prometido, o grupo de cambistas aumentara absurdamente e eles não queriam sair dali.

Enquanto algumas pessoas da lista me exigiam (pois, nessas horas, é melhor exigir dos outros do que encarar a responsabilidade sozinhos) que eu não deixasse os cambistas ficarem na fila, os próprios cambistas se dividiam em opiniões. Uns diziam “aquele menino ali, o primeiro da fila, na frente dele ninguém vai passar tá ligado, e quem passar vai apanhar, pois ele merece mais do que ninguém”, sim, “cambistas honestos”, outros diziam “foda-se essa organização, quando os portões abrirem nós vamos empurrar quem estiver na frente, machuque quem machucar”.

O desespero começou a tomar conta de toda a fila. O empurra-empurra começou a pressionar o primeiro grupo da fila contra os portões. Comecei a ficar sem ar, pois o calor do sol, a essa hora da manhã, já esquentava o portão de ferro, e nossas costas, pressionadas, começavam a sentir toda a temperatura insuportável. As pessoas me pediam com sinais para chamar a polícia, pois a confusão se instaurara de vez, mas dois cambistas foram plantados do meu lado e qualquer gesto que eu fizesse eles ficavam de olhos. Eu estava preso! Toda a organização estava desabando!

No meio da confusão, surgiu uma menina, com cara de mal-encarada, que pediu a minha lista e disse que iria organizar aquela merda. Estranhei a atitude dela, mas eu estava sem forças para fazer mais nada. Ela começou a gritar, pedindo pro grupo de cambistas se afastar. Eles não recuavam e diziam que iam acabar com ela, e ela encarava-os como se não tivesse medo de ninguém.

- Eu vou distribuir senhas individuais para as pessoas da fila e só poderão entrar quem tiver esta senha. Ou seja, quem não estiver na lista (referindo-se aos cambistas) não entrará.

Os cambistas riram com desdém para a atitude dela, e a confusão piorou. Lógico, para piorar ainda mais a situação, a Rede Globo acabara de chegar ao acampamento para filmar ao vivo o programa Mais Você. E, todos sabem, como as pessoas se transformam quando se deparam com a Globo. Tive que segurar minha revolta crescente do fundo da minha alma e tentar ser simpático na entrevista, mesmo tendo vontade de matar o repórter ao ouvi-lo dizer que “não dava para saber quem eram os cambistas” (lógico que dava, era explícito isso!!!! Maldito descompromisso com a verdade!).

Eu, nesse momento, estava chorando, desesperado, com a situação saindo do meu controle, e tive que fazer a linha de “bom entrevistado”, pois não podia alertar ao vivo na Globo à questão dos cambistas pois eles estavam do meu lado com olhos de ameaças. Nunca quis matar tanto a Ana Maria Braga como naquele dia, ela rindo da gente!

Assista o vídeo aqui: http://madworld.com.br/blog/2008/09/03/reportagem-mais-voce-fila-madonna/

A entrevista acabou, a polícia chegou, mas fez cara de paisagem, os cambistas continuaram, agora sem a luz das câmeras, a nos pressionar. Tivemos a informação oficial: os portões seriam abertos às 10 da manhã e a Time 4 Fun não usuaria nossas senhas para a entrada. Ou seja, todo o esforço realizado até então, na próxima hora, seria jogado no lixo…

sábado, 29 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capitulo 17 - antepenúltimo

Quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O clima começou a esquentar entre os cambistas. Os ânimos estavam exaltados. O grupo de cambistas queria ficar na fila e não arredaria o pé dali. O líder deles, um cara de 2 metros de altura, poucos dentes e extremamente bêbado, começou a gritar para todos, dizendo que a fila ia ser respeitada (e nisso, eles se incluíam nela) e que se alguém desrespeitasse as regras (que, no caso, eles já estavam desrespeitando), eles iriam dar “porrada em todo mundo, iriam quebrar tudo, botar fogo, até matar se fosse necessário, que eles não tinham medo de nada”. Com essas palavras bastante “dóceis”, as pessoas começaram a ficar preocupadas, inclusive eu.

Além disso, já passara da meia-noite e as vendas pela internet em São Paulo haviam começado. Embora a Time 4 Fun tivesse divulgado que mais de 20 servidores estariam à disposição para que nada de errado acontecesse nas vendas online (como ocorrera no Rio de Janeiro), de nada adiantou: o site estava congestionado e ninguém conseguia comprar absolutamente nada. Agora era definitivo: durante toda a madrugada, a fila aumentaria de tamanho e as coisas iriam começar a ficar mais feias.

Mas, agora não tinha mais volta, era reta final, só bastava esperar o tempo passar. Falei com o pelotão da frente da fila, onde estavam concentradas as barracas, que nós iríamos desarmar o acampamento por volta das 6 da manhã, assim que o sol nascesse, para que na hora da abertura dos portões (programada para às 8 da manhã) tudo estivesse organizado.

O frio começou a ficar forte durante a madrugada. As pessoas começaram a se recolher em suas barracas, cadeiras, mantas e qualquer cantinho que parecesse um pouco confortável. Diversas emissoras de televisão gravaram em nosso acampamento, inclusive uma repórter da Band que me deixou bastante mal humorado ao me acordar, nos poucos minutos que consegui dormir, com uma puta luz forte na cara e perguntas que nem lembro o que respondi. Após ver a gravação do programa, percebi que quando eu acordo eu fico realmente com voz de drag (com todo o respeito às drags, obviamente) e com cabelo de “fui atropelado”.



Antes de tentar dormir um pouco, resolvi dar uma volta na fila. Percorri os mais de 700 metros de pessoas que se aglomeravam na Marginal Pinheiros. Fui até o fim e lá encontrei um grupo de amigos bastante simpáticos. Era incrível que, com mais de 600 pessoas na frente deles, eles não perdiam a animação. Um deles me reconheceu. “Você é o 1º da fila, que organizou tudo isso?” e eu respondi “sou sim“. Então ele me fez a pergunta que até agora eu não consigo claramente responder. “Mas por que você fez tudo isso?“

Por que? Talvez pela sensação de estar rodeado de pessoas com o mesmo sonho, o mesmo sentimento, a mesma vontade, a mesma euforia, o mesmo fanatismo. Talvez por saber que só um fã conseguiria organizar realmente algo sério, pois se dependêssemos de organizações oficiais e empresas, ficaríamos na mão. Talvez eu realmente tenha surtado. Eu não sabia explicar ao certo, mas adormeci com essa pergunta na cabeça…

6 horas da manhã:

- Acordeeeeem galera, vamos desmontar acampamento, chegou a hora!

Na fila sem Madonna



Capítulo 16

No entardecer, peguei carona de carro com um casal que conheci na fila e fiz um rápido bate-e-volta para minha casa. Tomei um banho (gelado, pois minha pele ardia por conta do sol tomado durante o dia), comi comida de mamãe e arrumei minhas malas para grande reta final. Meus pais, preocupados, resolveram me levar de carro de volta à fila, por volta de umas 9 da noite. A cena, logo ao chegarmos ao Credicard Hall, era assustadora. As 300 pessoas que estavam na fila quando eu sai agora já eram mais de 700. A fila, que antes era bem pequena, agora tinha em torno de 500 metros de comprimento, perdia-se na vista.

Pessoas dançando, pessoas cantando, deitadas no chão, rindo, conversando, comendo. Gente de todas as idade, filhas com mães, grupos de amigos, casais de namorados. Reencontrei meus amigos da fila e todos estavam com fisionomias bastante cansadas. Mas, em todos os olhares, todos os sorrisos, a sensação era unânime: nós conseguimos! Conseguimos organizar, conseguimos evitar confusão, conseguimos chegar até aqui, depois de tantos dias pesados no acampamento.



Eu, desde que chegara na fila, nunca havia me sentido tão bem como neste momento. Era delicioso passar pelas pessoas na fila e perceber que todos estavam lá com o mesmo objetivo, tinham a mesma paixão, desejavam a mesma coisa: poder estar mais perto de seu ídolo, de presenciar um show de Madonna, de vê-la, quem sabe pela última vez no Brasil, bem de pertinho. Era uma sensação que só um verdadeiro fã pode sentir e quem não é com certeza acha bobeira. Naquela fila, não haviam diferenças. Enquanto dois meninos se beijavam em uma parte da fila, logo ao lado um casal hetero cantava uma letra da cantora, ao lado uma senhora conversava com sua neta, ao lado um grupo de gays dançava até o chão e alguns heteros entravam na brincadeira sem pensar duas vezes. O pensamento era o mesmo, não haviam diferenças, não havia preconceito, não havia rivalidade. Era mágico, era surreal.

Mas, a tranquilidade durou pouco tempo. O grupo de cambistas aumentou absurdamente. Eles bebiam, falavam palavrão, riam das pessoas, distoavam completamente das demais pessoas. Com medo, muitos acampantes vieram conversar comigo para saber se tudo ia dar certo, porque aqueles homens estavam furando fila, como eles iam resolver. Uma menina me disse também que ouvira dos cambistas que quando os portões abrissem eles iriam atropelar quem viesse pela frente. Preciserei tomar uma atitude.

- Gente, todo mundo, por favor, silêncio. Sério, preciso falar uma coisa!

Em torno de 150 pessoas do pelotão da frente ficaram em silêncio.

- Chegamos à reta final, agora precisamos manter ao máximo a organização. Eu quero que todos, todos mesmo, dirijam-se a suas barracas na ordem da lista montada e eu, com a ajuda de algumas pessoas, vou conferir um por um a ordem de chegada, e quem não estiver na lista vai ter que sair.

Os cambistas então não gostaram da situação, da bagunça que começou a se formar com as pessoas retornando a seus lugares, e então decidiram também agir…

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 15

Na hora do almoço, tive um refeição um tanto quanto inusitada. Em plena Marginal Pinheiros, sentado debaixo de minha barraca, sob um sol escaldante, eu e o santista comemos um delicioso frango assado recém comprado na padaria. Sim, com direito a farofa e refrigerante quase quente! Esse foi um presentinho de um senhor que, em troca da ajuda que estávamos proporcionando na organização da fila, ele nos daria comida. Aos poucos, minha barraca ia ficando completamente suja, com pedaços de comida, bebida derramada, dezenas de blusas e malas que eu não fazia idéia de onde tinham surgido, além da básica sujeira provinda da Marginal.

O tempo foi passando, mais pessoas chegando à fila, e o calor insuportável tomou todo o lugar. O sol estava terrível, com um céu azul limpinho, sem nenhuma nuvem. Diferente da primeira fila, onde a temperatura era mais amena, na Marginal a sensação térmica era desesperadora.



Me senti uma espécie de líder espiritual isolado na área de descanso, embora minha aparência descabelada, sujo de graxa e terra ao tentar escalar o canteiro, e com a camiseta enrolada nas costas, estava mais para líder de rebelião de presídio. De vez em quando, alguém da fila atravessava a Marginal para fazer alguma pergunta a mim. Era cômico uma cena cômica que, com o calor, se tornava trágica. Eu, branquelo que sou, não demorou muito tempo para começasse a ficar vermelho. E ardendo! Ainda bem que o ator tinha protetor-solar. Mas, mesmo assim, fiquei com várias manchas na pele. Além disso, com o sol na cabeça, comecei a ficar meio tonto.

Aos poucos, a imprensa voltou a visitar o acampamento. Dei entrevista para o portal IG (veja aqui), para a Globo.com (veja aqui), para a TV Gazeta (veja aqui) e para tantos outros veículos que chegavam ao acampamento procurando por meu nome. Eu, sujo, suado, descabelado, com a boca toda rachada do calor, com as calças “a la pular brejo”, mesmo assim atendia aos jornalistas. Eu sabia que muitas vezes ter que entrevistar alguém nessas condições também não era nada proveitoso.

A fila começou a crescer, o calor começou a ficar insuportável, o trânsito da Marginal começou a ficar mais carregado. Tentamos entrar em contato com a organização do Credicard Hall para fazerem policiamento na fila. Em vão. Eu fiz uma reunião com integrantes da CET para que, ao menos, uma pista da Marginal fosse interditada e que se usassem cones e delimitasse o local. Em vão. Nós estávamos realmente sozinhos. E, aos poucos, o grupo de cambistas na fila, que a princípio era pequeno, misteriosamente estava começando a crescer. E todos estavam percebendo isso! Oas conversas ao pé do ouvido e olhares desconfiados começaram a surgir entre os acampantes, cambistas ou não.

Na fila sem Madonna


Capítulo 14

Terça-feira, 2 de setembro de 2008

- Galera, bom dia! Estamos na véspera da vendas dos ingressos, amanhã é o tão sonhado dia de chegarmos mais perto de Madonna. Estamos agora com quase 250 pessoas em nossa lista e esse número irá triplicar durante todo o dia. Por isso, depois de 3 dias aqui nesta fila, precisamos ir para a Marginal Pinheiros. Só assim conseguiremos manter a organização quando mais pessoas chegarem. Se arrumem, tomem seus cafés-da-manhã e desmontem as barracas. Não saiam dos seus lugares! Eu vou coordenar toda a transição. Vai dar certo e todos continuarão em suas respectivas posições. Confiem em mim!

O momento mais difícil até então havia chegado. Como mover dezenas de barracas, centenas de pessoas, sem haver confusão? Eu havia tomado a responsabilidade para mim e não poderia falhar. Se eles me viam como o líder, eu deveria agir como tal.

Antes de começarmos a mudança, fui com um amigo em uma banca de jornal. Estava lá, estampada, na capa, a notícia no jornal Agora: “Acampado, esperando Madonna”. Eu não podia acreditar. A minha loucura de montar um acampamento e passar noites ao relento havia se tornado matéria de capa de jornal!



Foi engraçado ver meu nome ali. Acho que apenas nesse momento eu realmente me toquei sobre a repercussão que a fila estava causando. Até então eu via o acampamento como uma coisa “nossa”, das pessoas que estavam lá, e só. Agora, o acampamento estava na capa do jornal, com meu nome, minha idade, meu rosto, minha barraca. Era assustador! Mas, confesso: até que fiquei bem de listrado rs.

Fiquei um tempo com uma mistura de excitação e medo e retornei à fila. Decidi montar uma “equipe de transição” para o acampamento: eu e o santista iríamos primeiro para a Marginal, na frente do portão principal. Montaríamos lá nossas barracas. Como havíamos na noite anterior passado a lista a limpo, eu ficaria com uma cópia e o ator e o menino de Campinas ficariam na fila anterior com a outra cópia. Assim, eu ligaria com meu celular para o ator e ele liberaria uma barraca. Só quando ela chegasse na Marginal eu ligaria de novo e pediria mais outra barraca. Seria demorado e trabalhoso, mas era a melhor estratégia.



Foram mais de 2 horas e uma conta de celular gigantesca para finalizarmos a transposição. Quando o movimento já era bastante alto na Marginal, horário de rush, conseguimos fazer com que a última barraca da fila antiga migrasse para a nova fila.



Agora, na Marginal, só Deus sabia tudo que iria acontecer…

domingo, 23 de novembro de 2008

"za za zu"

Borboletas no estômago, um frio na barriga, uma sensação de ficar com "cara de bobo" ou de precisar encontrar palavras para não dizer qualquer asneira. Quem, afinal, não gosta de sentir aquele sentimento que entra em nosso corpo quando encontramos alguém que seja enfim "the one". Como diria Carrie Bradshaw em Sex and The City, afinal, como não gostar de um "za za zu"?

Ficar um bom tempo solteiro em uma cidade como São Paulo é uma experiência interessante. Sim, interessante seria o melhor adjetivo para ser usado, pois há dias que os adjetivos seriam bem ruins, e há dias em que não haveria adjetivos suficientes para se definir um momento de satisfação. Mas, será que há como um solteiro viver sem um "za za zu" e ser feliz?

Ando em uma fase delicada de minha vida quando o assunto é relacionamentos. Há dias em que tudo o que preciso é apenas uma boa e velha noite de sexo. Sim, aquele sexo que não importa nada, não importa o dia seguinte, não importa aonde conheceu. Sexo, puro e completo. Mas há dias em que relacionamentos são irrelevantes, pois os amigos fazem o papel dos verdadeiros acompanhantes. Aquelas noites de dar risadas até a barriga doer, aqueles momentos simples e únicos responsáveis por tornar a amizade tão fundamental. Mas há também os domingos de chuva e sol entre nuvens, domingos em que apenas procuramos um "za za zu".

São Paulo é uma cidade onde se pode encontrar desde noites calientes de sexo selvagens, passeios deslumbrantes ao lado de amigos ou possibilidades de se encontrar um "za za zu". Porém, para os paulistanos tão acostumados com a cidade, com o movimento, com a rotina, com a mesma cidade e mesmas pessoas e mesmos programas, muitas vezes não se sabe por onde começar a procurar as borboletas. Por isso, muitas vezes, a cidade adormece com vários solteiros olhando por suas janelas e esperando que, no dia seguinte, um "za za zu" bata em sua porta.

O ano está acabando, o Natal já está nas decorações, os sonhos começam a novamente ser escritos em cartas para o Papai-Noel. Será que seria pedir muito um "za za zu" de presente? Ou quem sabe eu deva aprender a cultivar dentro de mim mesmo as borboletas"

sábado, 22 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 13

- Eu tenho uma única certeza: amanhã essa fila vai virar um inferno!
- Sim, todos vão começar a chegar em peso.
- Será que é melhor amanhã à tarde já transferirmos a fila para a Marginal Pinheiros, na frente do portão oficial?
- Acho que de tarde já haverão pessoas lá. Não podemos correr o risco! Precisamos mudar esse acampamento logo pela manhã.
- Mas não será complicado mudar todo mundo junto?
- Não, eu vou coordenar tudo direitinho. Até agora, tudo deu certo, e continuará dando. Amanhã, quando o sol nascer, vamos levantar o acampamento e migrar pra Marginal!

Ficou tudo decidido. Seria a última noite que dormiríamos na fila formada atrás do Credicard Hall. No dia seguinte, véspera das vendas dos ingressos, a quantidade de pessoas na fila iria triplicar e não poderíamos correr o risco de se formar uma confusão. Precisávamos ser ligeiros e, se começássemos a troca logo pela manhã, não haveria a possibilidade de serem formadas duas filas. Seria a terceira e última noite naquela calçada.

Passei de grupo por grupo avisando sobre os novos planos. Para reforçarmos a organização, o Hector, que havia ficado responsável pela lista, começou a passá-la a limpo. Nome por nome, barraca por barraca, grupo por grupo. Todos estariam certos de suas posições e de que a ordem seria mantida.

A sensação da noite era de despedida. Precisávamos aproveitar. Compramos comidas e bebidas e começamos uma festa na própria calçada. A animação era quase unânime. Uns colocavam Madonna no último volume do celular para tocar. Outros brincavam de jogar can-can na calçada. Alguns discutiam sobre os assuntos mais variados possíveis, de Big Brother à eleições presidenciais de 2010. Era bastante engraçado ver todas aquelas pessoas que, dias atrás, nem se conheciam, conversando como amigos de infância.

Durante quase 2 horas a equipe de filmagem da Rede TV nos atormentou, ligando as luzes das câmeras em nossos rostos e pedindo para que déssemos entrevistas a cada 10 minutos. Eu não aguentava mais olhar para o rosto do repórter, que fazia as perguntas mais idiotas possíveis do tipo “você gosta da Madonna?”. Não, não, eu estava lá porque era um hobby acampar nas ruas, nem sabia de quem era o show. Dãrn!

O efeito da bebida subiu ao poucos e eu comecei a ficar alegrinho. Durante horas, me diverti com o Harry, o menino das pulserinhas, fazendo fotos, filmes e dando muitas risadas.



A “ala adolescente” se reuniu dentro de uma barraca, com portas fechadas e iluminada pela minha lanterna, companheira de acampamento, e começou a fazer uma grande bagunça. Fiquei curioso e resolvi entrar para ver o que estava acontecendo.

- Aeeeee, o Paulinho vai entrar no verdade ou desafio!!
- Que? Eu? Não, não tenho mais idade para isso!
- Ah, cala a boca Paulinho, vai brincar sim!

Seria engraçado reviver momentos da minha adolescência com aqueles meninos entre 16 e 19 anos. Verdade ou desafio, uma brincadeira tão clássica em minha vida. Porém, eu não achava que essa “juventude” estava tão, digamos, moderna.

- Desafio você a lamber do pescoço dele até o umbigo!
- Desafio você a deixar um chupão no peito dele!
- Desafio você a sentar no colo dele e dar um beijo demorado de língua!

Minha nossa! Na minha época, o clímax da brincadeira era quando rolava um simples “selinho”. Me senti um idoso perto daqueles meninos. Ainda bem que tive que participar de poucos desafios! (okey, um menino muito abusado me escolheu para…bem, deixa para lá!). Só sei que foi uma beijação, uma pegação, digna da balada mais fervida de Sâo Paulo. Eu, o tiozão da turma, durei pouco na brincadeira, pois o calor de 8 pessoas dentro de uma barraca minúscula me sufocou.

A noite estava gelada, mas a animação durou até altas horas da madrugada. Quando o sono bateu, por volta das 4 da manhã, resolvi ir para minha barraca. Mas, para minha surpresa, ela havia sido invadida por várias pessoas da fila que já estavam dormindo e não haviam deixado nem sequer um cantinho para eu deitar. Tive que me contentar em dividir a barraca da ala adolescente, que até altas horas fez um barulho que só a animação jovial (não era mais meu caso) podia aguentar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 12

Bem que tentei descansar um pouco em casa, mas minha cabeça estava a todo vapor. Nem o banho de água gelada conseguiu acalmar meus nervos. Nos poucos minutos que deitei na cama, duas pessoas do acampamento me ligaram para pedir informações. Além disso, o pessoal da revista A Capa soube de minha saga e me entrevistou por telefone. Aliás, seria apenas a primeira entrevista de várias que eu estariam por realizar comigo.

Quando voltei por volta das 7 da noite ao acampamento, a fila estava pegando fogo! Durante a tarde, mais de 50 pessoas chegaram ao acampamento, diversas barracas foram armadas, a lista já estava gigante e a imprensa já havia descoberto sobre nossa organização. Nas poucas horas que fiquei fora, jornalistas do O Estado de S. Paulo e da Reuters apareceram na fila a minha procura e, como eu não estava lá, disseram que voltariam depois.

Foi só eu pisar no local que já fiquei sabendo de mais “visitas amigáveis” de cambistas à fila. Aliás, alguns cambistas já estavam acampados na fila com as demais pessoas, pois a regra era igual para todos: não importa o que você fará com os 6 ingressos, se você ficar na fila como todos estão fazendo, você poderá comprar seus ingressos. Sendo assim, cambista ou não, todos passaram a respeitar as regras.

Mas não tive muito tempo para conversar com as pessoas da fila. Um repórter do jornal Agora estava me esperando há quase 1 hora para me entrevistar. Foi engraçado estar do outro lado da entrevista, não como jornalista, e sim como entrevistado. Uma experiência bem diferente. A cada informação que eu passava ao repórter, o filme do acampamento, desde a primeira vinda ao Credicard Hall, 3 dias atrás, até aquele momento, passava na minha cabeça. Por último, o fotógrafo do jornal fez uma foto minha à frente de minha barraca.

Fiz questão de conhecer todos que haviam chegado na fila. Fui passando de barraca e barraca cumprimentando as pessoas e distribuindo uma torta gigante que minha mãe fez e embrulhou para eu levar ao acampamento. Praticamente um político em época de eleição distribuindo santinho rs. Enquanto isso, aproveitei o momento para matar a saudades (nossa, eu já estava com saudades!) das pessoas que eu conhecera desde o primeiro dia na fila.

Elas estavam sendo fundamentais para a organização da fila: a postura sempre firme do santista, a pré-disposição e alegria do Horus, que havia trazido as pulseiras de camarote, a ajuda do Hector, que ficou responsável por não desgrudar um só minuto da lista oficial, além dos demais componentes da fila que estavam se respeitando e sempre que eu estava ausente, ensinavam para os novos acampantes as regras.

Mas, agora, o acampamento já estava com muita gente. O medo de que uma nova fila se formasse no portão oficial do Credicard Hall era constante. Precisávamos decidir o que faríamos, se ficaríamos lá ou migraríamos para outro lugar. Pensei bastante a respeito e resolvi chamar 3 pessoas em minha barraca: o santista, o menino das pulserinhas e o hetero bonzinho engraçado. Faríamos uma reunião para decidir o futuro da fila.

Na fila sem Madonna


Capítulo 11

Segunda-feira, 1º de setembro de 2008

Eu, desde que acordara naquela manhã pelo barulho dos carros passando na rua, fiquei extremamente de mau humor. Bem diferente de como havia sido sábado e domingo, com pouco movimento naquela via, na manhã dessa segunda-feira o tráfego era bastante intenso. A cada caminhão que passava na rua, a calçada, bastante estreita, balançava.

Tinha sido uma madrugada horrível, pelo frio que eu passara e pelo casal que dormia ao meu lado. Além disso, por volta das 4 da manhã, fui acordado abruptamente na barraca por pessoas chamando meu nome. Horus, um menino que eu também havia conhecido na comunidade do orkut da Madonna, chegara ao acampamento de madrugada e, como havíamos combinado, ficaria na minha barraca.

Mas, naquela hora da madrugada, pouco tempo de eu ter me deitado na barraca, eu estava tão drogado de sono (e irritação), que apenas fui realmente notar sua presença quando me acordaram novamente, às 7 da manhã, para explicar as regras para mais pessoas que estavam chegando. Com cabelo desarrumado, bafo horroroso e olhos fechados, tive que falar regrinha por regrinha a cinco novas pessoas que chegavam na fila.

Horus, como também havíamos combinado, trouxera quase 100 pulseiras de camarote para podermos identificar as pessoas do acampamento. Passamos de um por um na fila colocando as pulseiras. Extremamente engraçado, ele me proporcionou algumas risadas no meio de meu mau humor. Simpatizei com o menino desde o primeiro “oi”. Aquela sensação de “vou precisar de você do meu lado para aturar tudo isso” me dominou.



Tomei um rápido café da manhã que a mãe de um menino trouxera e fui dar uma volta sozinho, sem que ninguém me notasse e chamasse por meu nome. Se de noite fizera em torno de 10 ºC a temperatura dentro da barraca, pouco tempo depois de acordar, por volta das 10 da manhã, a temperatura já passava dos 30º C. Eu não estava me sentindo bem. Minha cabeça estava zonza, minha boca ardia, minha pressão estava alterada. Fui até um bar na rua comer um pão-de-queijo e usar o banheiro. Comecei a passar mal lá. Fiquei enjoado, tudo começou a rodar a minha volta. Para piorar, briguei por telefone com minha mãe. Além disso, tive que organizar várias coisas na fila com pessoas que estavam sendo bastante folgadas.

Eu estava irritado, nervoso, enjoado. Será que havia ficado doente? Eu apenas sabia que não conseguiria ficar mais um só minuto sob aquele sol. Não desejava largar a fila, mas eu realmente precisava de um banho, precisava de remédio para enjôo, precisava da minha cama, precisava da minha mãe, precisava ficar nem que fosse uma horinha sem que alguém chamasse por meu nome. Havia chegado ao limite.

- Gente, eu estou prestes a desmaiar. Por favor, continuem a organização de tarde, eu estou indo para casa. Volto ao entardecer, qualquer coisa me liguem – e rumei pela segunda vez, desde que chegara ao acampamento, para o ponto de ônibus, meio cambaleando, meio febril, meio segurando meu estômago na garganta.

domingo, 16 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 10

A noite de domingo começou a apontar no horizonte. A cada hora chegavam mais pessoas curiosas em saber o porquê de estarmos lá acampados. Até mesmo um casal que morava na região há 18 anos se sensibilizou com nossa organização e disse que a casa deles estaria aberta para o que precisássemos. “Se quiserem tomar um banho, fazer um miojo, contem com a gente!”. Através deles, fiquei sabendo um pouco da história do Credicard Hall: antes de sua construção, o local abrigava três campos de futebol e um córrego do Rio Pinheiros. Com a construção da casa, tudo foi destruído sem dó!

A ansiedade da noite ficou por conta do início das vendas para os shows no Rio de Janeiro. Nós tínhamos certeza de que o que acontecesse no Rio repercutiria diretamente em nosso acampamento. Por volta da meia noite, chamei uma reunião com todos do acampamento. Ale Jump, o menino que viera visitar a fila na madrugada anterior (que iria nos shows de Buenos Aires e Nova York) ficara de me ligar quando as vendas começassem pelo site.

À meia noite, o telefone tocou. Todos da fila se reuniram a minha volta. Foram minutos e mais minutos de muita conversa, sustos, caras de estranhamento e confirmação do que já imaginávamos: toda a rede estava congestionada, ninguém conseguia comprar nada. Aos poucos, todos começaram a receber mensagens em seus celulares de amigos ou parentes dizendo que estava impossível comprar qualquer ingresso. Agora tínhamos certeza que no dia seguinte o acampamento iria fervilhar.

Seria nossa última noite de “sossego”. Resolvemos comprar bebidas para nos esquentarmos do frio. Eu, fraco para bebida, em pouco tempo fiquei bem alegre (ou “levemente sensual”, como gosta de brincar o Driko, meu amigo). Até enrolei a língua para explicar a dois meninos que chegavam as regras do acampamento. Não era fácil ser porta-voz com álcool no corpo!

Por volta das 2 da manhã, resolvi dormir. Chamei o menino de Campinas para irmos à barraca. Era a hora de descobrir se seríamos mais do que amigos.

“O ator podia também ficar na nossa barraca né, e deixar a barraca dele, que é pequena, para os outros dois meninos que chegaram e estão sem. Eles ficariam mais à vontade e não passariam frio”, me pediu o menino de Campinas. Embora com o pensamento de “ahh, mas íamos ficar a sós”, concordei na hora.

Deitamos os três na barraca: eu em uma ponta, o Campinas no meio e o ator na outra. Virei para a parede, ajeitei as cobertas e me preparei: “agora vou virar, vou abraçá-lo e dormiremos juntinhos”. Então virei e…fiquei em choque! Como eu havia sido ingênuo, não acreditava no que estava acontecendo, não era possível. O menino de Campinas e o ator estavam já meio que abraçados, juntinhos, lado-a-lado, super namorandinhos. Não sabia o que fazer, eu estava sendo “traído” em minha própria barraca. Olhei para o menino de Campinas e apenas consegui dizer “não acredito…”. Ele virou para mim e disse “ahn? não entendi”, virou de lado e dormiu abraçado com o menino.

Senti um letreiro de “idiota” piscando intensamente na minha testa. Deitei de lado novamente e tentei dormir. Mas foi bastante difícil, por dois simples motivos: a sensação de ter um casal ao meu lado “Deus sabe fazendo o quê” (eu não me dignei a olhar) e pelo frio. Sim, frio, pois os dois, na maior cara de pau, puxavam minha coberta e me deixavam tremendo de frio. Em minha própria barraca!!!!! E Deus, lá em cima, ria novamente de mim.

Na fila sem Madonna



Capítulo 9

Foi delicioso comer a comida de mamãe, tomar um banho quente, colocar uma roupa limpa. Mas eu já vivia a emoção da fila, eu já sentia adrenalina de passar noites e mais noites na rua. Não suportava o fato de eu estar em casa, enquanto o acampamento estava lá, a cada instante com possíveis novas pessoas. Acho que o frio da madrugada passada definitivamente tinha afetado meus miolos: saí correndo do conforto de casa pouco tempo depois de chegar. Eu precisava voltar para a fila.

Quando cheguei, quase 1 hora e meio depois, realmente novas pessoas haviam chegado. No entanto, me surpreendi quando vi que o acampamento continuava no mesmo lugar, na rua atrás do Credicard Hall. Eles não haviam migrado para dentro do estacionamento, como havíamos decidido na noite anterior.

- Lacraram os portões! Não podemos mais ficar lá dentro. É aqui ou na Marginal, então resolvemos manter nossas coisas nesta calçada.

Realmente era a melhor opção. Meu amigo Driko ainda não havia chegado, mas, mesmo assim, minha barraca estava lá, intacta. Percebi que o clima de cumplicidade tomava conta daquele ambiente.

Me apresentei às novas pessoas (um ator bem bonito de 30 anos, um menininho japonês de 16 anos, meu amigo de Campinas que eu havia conhecido na comunidade da Madonna, e alguns outros):

- Bom, galera, eu sou o Paulinho, o primeiro da fila, alguns de vocês até já me conhecem pelo Orkut. Nós colocamos uma série de regrinhas no acampamento para preservar a segurança das pessoas e, lógico, não presenciarmos nenhuma injustiça. Ouçam com atenção…

E, detalhadamente, contei aos novos integrantes todas as regras que já havíamos decidido desde o começo. Anotei os nomes na lista, ajudei na montagem das barracas e comecei a conhecer um pouco mais dos meus novos companheiros de “alojamento”. Mas, confesso, que eu estava realmente interessado era mesmo no meu amigo de Campinas.

Eu o via como algo a mais do que um simples amigo. Ele namorava há mais de 1 ano, mas pela Internet havia dados sintomas de que minha relação com ele (dividiríamos a mesma barraca!) seria muito mais do que amigável. Mas, ainda naquela noite, eu ainda teria uma grande surpresa dentro de minha própria barraca, uma noite que eu jamais esqueceria.

Enquanto estava imerso em meus pensamentos, comecei a ouvir uma espécie de pagode, cada vez mais alto. Percebi que a rua começou a ficar com um grande movimento, começamos a ouvir uma série de buzinas, de pessoas gritando. Rebelião? Casamento? Protesto? Não não, era nada mais, nada menos, que o comício do candidato a vereador Netinho de Paula (Domingoooooo da Gentiiiiiiiiii, ele mesmo!), hoje o 3º mais votado da cidade nas últimas eleições.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 8

A noite se foi sem maiores emoções. Tentamos ficar acordados, controlando o frio, que beirava a casa dos 10 ºC, e o sono, que já estava bastante complicado. Peguei uma manta que havia levado na mala, sentei na mureta do Credicard Hall, e fiquei contando os minutos passarem. O vento gelado batia nas bochechas do rosto e provocava calafrios em todo o corpo. Foram mais de 2 horas de muita concentração. Tivemos, nesse tempo, apenas mais uma única “visita”.

Dois homens sentados em uma carroça, sendo controlados por um cavalo, passaram pelo acampamento animadíssimos e nos chamaram de “ciganos”, dando altas gargalhadas. Talvez fosse pelo fato do santista ter enrolado sua coberta xadrez de cor laranja em suas pernas e, realmente, estar parecendo um cigano.

Quando o céu começava a dar sinais de que mais um dia iria começar, falei com os meninos que deitaria um pouco na barraca. Coloquei a cabeça em minha mala e em pouco tempo adormeci. Fiquei imóvel durante cerca de 40 minutos, controlando a dor nas costas com o desconforto da calçada. Ao ouvir um caminhão passar na rua a todo vapor, acordei assustado.

Do lado de fora da barraca, ouvi uma conversa em tom de discussão. O santista conversava em uma altura nada amigável com um cara de uns 40 e poucos anos. Mesmo sonolento, ao olhar para ele, já percebi que tinha um jeito de cambista. Eu estava com muito sono, ouvi palavras jogadas na conversa do tipo “cadeia”, “ameaça”, “toma cuidado”. Embora sentisse que o teor da conversa era bastante sério, em tom realmente de ameaça, não dei muita trela O sono falava mais alto. Só horas depois eu saberia que a discussão havia sido bastante feia com o cara, que realmente era cambista e que queria burlar as regras impostas pelo grupo do acampamento, ameaçando as pessoas que já estavam nele.

Mas no momento da briga, eu estava mesmo hipnotizado pelo sol, que aos poucos aparecia no meio do horizonte. Eu nunca havia ficado tão excitado como naquele momento, por conta da simples sensação dos primeiros raios de sol tocando meu rosto. “Eu tenho bochechas novamente”, era tudo o que eu conseguia pensar.
Pouco antes das 8 horas da manhã, quando todos já estavam bem dispostos com o calor do sol e com a ansiedade de voltar novamente para dentro do Credicard Hall, decidi dar um pulo em casa. Fazia dois dias que eu estava sem tomar banho e os primeiros sinais de sujeira (cabelo praticamente black-power e meias com um desagradável chulézinho, eca!) já apareciam.

Ficou acordado que os meninos cuidariam de minha barraca até que o Driko chegasse novamente ao acampamento, como já havíamos combinado. Eu iria para casa, tomaria um banho rápido, comeria alguma coisa saudável e correria de volta para o acampamento, que nesse momento, já deveria estar se formando dentro do Credicard Hall. E lá fui eu para o ponto de ônibus, com a felicidade de quem sentiria as gostas de água quente percorrendo pelo corpo e depois sentaria com mamãe na mesa farta do almoço.

Na fila sem Madonna


Capítulo 7

Teríamos apenas mais uma visita inesperada naquela madrugada movimentada. Um carro parou à frente de nosso acampamento. Mais uma vez um carro preto, mais uma vez com vidros escuros. Ficamos tensos. Será que eram novamente os cambistas? O vidro se abriu e ouvimos um “Paulinho?”. Uffa! Era alguém conhecido. De dentro do carro saíram três meninos, sendo que o que havia chamado por meu nome reconheci que era um integrante da comunidade da Madonna no Orkut. Durante as semanas que antecederam ao acampamento, por diversas vezes nós havíamos conversado. Nos apresentamos e durante o pouco tempo que nao tive, a princípio, uma boa impressão dele.

- Ficamos sabendo que havia pessoas na fila e resolvemos dar uma passada.
- Mas vocês vão se juntar com a gente ao acampamento?
- Não! Nós vamos comprar pela Internet. Mas estou sossegado, pois já comprei para Nova York e também irei ao show de Buenos Aires, então estou mais tranqüilo!
- Ah…


Não gosto de pessoas esnobes. No frio daquela madrugada, com tudo o que já havíamos passado, a última coisa que eu queria era ver alguém chegar na fila de carro importado, confortável com ar-condicionado quente do veículo e ainda ter que ouvir que a pessoa iria a diversos shows da Madonna. Era um tapa na cara nada agradável.

Ao sair, o menino deixou de lado um pouco o ar de superioridade que ficou evidente, pegou meu número de celular e disse que poderíamos contar com ele para o que fosse necessário. Dei um sorriso, agradeci, mas não estava muito contente com a cena que tinha acabado de acontecer.

Voltamos para nossa roda e continuamos a conversar. Foi então que eu descobri que o Bobby era uma das pessoas mais engraçadas que eu já havia conhecido na vida. Para passar o tempo, ele começou a contar diversas histórias hilárias que já havia vivido.

- Uma vez, eu e minha mulher estávamos passeando em um shopping center, quando vi na vitrine de uma locadora um poster da Madonna. Eu precisava daquele pôster de qualquer forma. Virei para minha esposa e disse “Sandra, você vai entrar naquela loja e vai conseguir aquele pôster para mim, não importa como! Eu estarei esperando na praça de alimentação”. Olha, eu sei que 15 minutos depois que entrou na loja, ela voltou com o poster e meu deu. Eu disse para ela “Sandra, eu te amo, muito obrigado, e não preciso saber como você conseguiu tá, guarda isso para você!”.

Nós quatro já estávamos nos mijando de rir com a história, quando ele disse que não havia acabado.

- Nesse mesmo dia, eu havia prometido para ela que iria acompanhá-la em uma missa do Padre Marcelo. Eu nunca fui muito religioso, mas promessa era promessa né. Estava eu lá com sono, ouvindo a missa, quando o Padre falou para os milhares de fiéis “Agora, é o momento da benção. Eu quero que vocês levantem fotos de parentes ou documentos que vocês desejam que sejam abençoados”. Ahhh, eu não pensei duas vezes! Peguei o pôster gigante da Madonna e ergui com o maior orgulho! Vocês podem rir de mim, mas agora Madonna está lá na parede de casa abençoada pelo Padre Marcelo!!!!!

Minha barriga doía de tantas gargalhadas. A cada vez que eu imaginava a cena do poster sendo erguido, eu caía no chão de tanto rir. E ele contava tudo com tanta naturalidade que ficava mais engraçado ainda. E tinha mais histórias!

- Outra vez eu estava na casa de uns amigos em uma favela, aqui na Zona Sul de São Paulo. Um dos meninos havia conseguido uma fita de vídeo de um show da Madonna. Todos eram gays lá, menos eu. Sempre tive amigos gays, nunca tive problemas com isso. Estávamos em umas 15 pessoas, todas fascinadas com o show, cantando com a apresentação de Vogue. De repente, entram na casa o irmão de um dos meninos e vários homens mal-encarados, eles saem correndo pro quarto e voltam para a sala com várias armas na mão! Eu fiquei congelado, não sabia o que fazer, todos estavam morrendo de medo. Aí os homens saíram da casa e começou um puta tiroteio lá fora. Eu pensei “Pronto, vou morrer ouvindo Vogue, vou morrer com Madonna!”. Mas imaginem no dia seguinte, na capa do jornal, a foto de um monte de homens mortos juntos e na TV tocando Madonna. Eu ia morrer com um monte de viado ao lado e nem poderia explicar que eu era o único hétero ali!!! Depois de morrer, eu viraria gay, era só o que faltava!!!!!

A partir daí eu não tinha mais estômago, de tanto que minha barriga doía de rir.

- Lá em casa já ensinei meu filhinho desde pequeno. Eu digo para ele: “Filho, você tem que amar acima de tudo o papai, a mamãe, a vovó e, lógico, a Madonna!”.

A noite aos poucos foi se passando com o eco de gargalhadas na extensão da rua.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ciclos

Um dos principais defeitos que a rotina pode trazer à vida é a incapacidade de nos analisarmos, de aproveitarmos aqueles preciosos 5 minutos para olharmos para nosso umbigo e pensarmos "estou no caminho certo?". Esse nostálgicos momentos acontecem quando menos esperamos: numa noite de chuva rala, num metrô lotado, num olhar vazio deitado na cama, num sorriso escondido por lábios enciumados, por um aglomerado de pessoas vindo em sua direção e você não sabe se as acompanha ou se segue o caminho contrário.

Hoje, caminhando pelas ruas semi-iluminadas da Mooca, tive meu momento. "estou no caminho certo?" Falta pouco menos de 1 mês para eu me formar no curso que escolhi seguir em minha vida, pouco menos de 1 mês para eu falar de boca aberta "sou jornalista". Meu trabalho cada dia que passa me transforma em um melhor profissional, cada dia que passa tenho mais responsabilidades e mais histórias para contar. Minha família não teve mais grandes brigas, minha casa não presenciou mais grandes crises de choro. Meu grupo de amigos se afunilou e hoje os que estão dentro desse funil eu sei que posso contar para a mais tensa crise de tristeza e para o mais profundo ataque de riso, pessoas incondicionais que constroem cada dia meu presente e deixam uma confirmação mais do que verdadeira de meu futuro. E o coração?

O que vivi esses últimos meses deste ano? Paixões passageiras, sentimentalismos baratos e desnecessários, esperanças facilmente escondidas atrás de beijos falsos, desilusões tão rápidas quanto as novas conquistas. Foi e está sendo um ano atípico, perante os meus "namoros duradouros" que já permeei no passado. Hoje, não passam de miniséries amorosas de poucos capítulos.

Mas, há uma coisa que faz parte de minha essência e que jamais deixarei para trás: a vontade de ter uma história de amor eterna. Não, não espero pelo meu príncipe encantado em cima de um cavalo branco, já passei da época idealizadora. Apenas procuro alguém que me faça feliz, que eu o faça feliz e que juntos construamos um relacionamento saudável, baseado em amor, confiança e respeito.

Faz 4 dias que saio com um menino e estou me sentindo bem. Ele é esse príncipe encantado? Talvez sim, talvez não, talvez eu demore anos para descobrir, talvez eu perceba amanhã. O importante é que aprendi a viver cada dia como único, sem grandes idealizações, sem montanhas se movendo enquanto precisam ficar paradas. Aprendi a entender o ritmo do coração e a controlar a impulsividade digna de um ariano. Lógico, dá uma vontade louca de falar "casa comigo?" e arriscar no escuro o tiro. Talvez até isso aconteça quando eu menos precisar. Mas o certo é que aprendi a não fazer isso meu sentido de vido: se tornou a consequência, apenas uma consequência.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 6

- “Why am I standing on a cloudEvery time you’re around…”
- Fácil! Angel, de álbum Like a Virgin- Acertou!
- “You took a pretty pictureAnd you smashed it into bits…”
- Hummm…já sei! Amazing, de Music.
- Caramba, acertou!
- “Your heart is not open so I must goThe spell has been broken?I loved you so…”
- Adoro essa! The Power of Good Bye…Álbum, humm…Ray of Light
- Puta que pariu, tá certo!

O menino de Lindóia surpreendeu a todos durante a madrugada. Em um simples jogo de adivinhação de músicas, ele mostrou ser realmente o maior fã de Madonna que já havíamos conhecido. Não errava uma só música, conhecia todos os álbuns e até mesmo algumas coreografias (em várias versões!!!). A cada nova brincadeira, ficávamos de boca aberta tamanho era o conhecimento do menino, embora tivesse apenas 21 anos.

Ficamos nos divertindo durante horas com a discografia de Madonna. A rua estava silenciosa, pouquíssimos carros passavam. Então um táxi parou do outro lado da rua. Estranhamos a principio. As portas do carro se abriram e um taxista de aproximadamente 140 quilos veio em nossa direção. O clima estava tenso, não sabíamos o que estava acontecendo. Percebemos que havia ficado um senhor dentro do táxi.

- Quem de vocês é o Wanderlei?

Tive que me segurar para não soltar uma violenta gargalhada. A voz do taxista era a mais engraçada que já ouvi em toda a minha vida. Extremamente anasalada, ela tinha um agudo muito forte. Na hora me veio à cabeça os dubladores de desenhos animados. Virei a cabeça e contive o riso. Percebi que os outros meninos também haviam segurado o riso.

- Não há nenhum Wanderlei aqui!
- Mas vocês não estão na fila pro show da Madonna?
- Sim, estamos, mas somos apenas nós cinco. Não há nenhum wanderlei aqui.
Ele nos olhou com cara de desconfiado. Virou as costas e entrou novamente no táxi. Ficou alguns minutos conversando com o senhor que lá esperava e então voltou.

- O senhor que está comigo pagou uma puta grana para um tal Vanderlei ficar na fila para comprar os ingressos. Segundo o cara, ele já estaria aqui acampado faz dias.

Pois é, o senhor do táxi havia sido enganado. Algum pilantra prometera que ficaria na fila, pegou a grana e sumiu no mundo. Era a primeira injustiça e prova de que as pessoas podem ser ruins que presenciaríamos no acampamento. Logo o taxista entrou no carro e saiu cantando os pneus.
A noite voltou a ficar silenciosa. Depois daquela cena ficamos de olhos mais abertos. De repente, sem que percebemos a movimentação, um carro preto parou à frente de nosso acampamento. Com os vidros com filme escuro, não podíamos ver quem estava dentro. Nossos corações gelaram imediatamente. Quatro homens grande, com cara de poucos amigos, vieram em nossa direção. Não tinha outra explicação pelo naipe: eram cambistas!

- Vocês estão aqui para a fila da Madonna?
- Estamos sim!
- Chegaram quando?
- Hoje.
- Hum…

O santista, nesse momento, tomou à frente do grupo e encarou os cambistas. Eu já estava com tudo fechado no meu corpo, tamanho era o medo. O cambista empinou o nariz e ficou cara-a-cara com um dos cambistas.

- O que vocês querem?, perguntou o santista
- Nada não, estamos só olhando! Mas tomem cuidado viu, nessa região as pessoas costumam ser assaltadas, barracas costumam sumir, não é bom ficar aqui viu. Melhor vocês voltarem para casa.

Era a primeira ameaça que receberíamos.Talvez se eu estivesse lá sozinho, com certeza já estaria arrumando as coisas e pegando o primeiro ônibus que aparecesse. Mas o santistas estava lá.

-Mermão, nós vamos ficar aqui até o dia das vendas e nada vai nos tirar.

O clima esquentou. Os cambistas ficaram quietos, pensando. Eu fiquei estático, não movimentei um só fio de cabelo.

- A gente está avisando…, e então deram as costas para barraca, entraram no carro e sumiram na noite. O silencio imperou. Olhamos uns para os outros, sem saber o que falar. Eu estava em choque, nunca havia presenciado tal cena.

- As noites serão complicadas. Vamos abrir os olhos galera, essa foi a só a primeira vez. Isso vai acontecer muitas vezes!, alertou o santista e todos se entreolharam.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Na fila sem Madonna

Capítulo 5



Estávamos agitados. Sabíamos que logo o sono viria, que a noite seria bastante cansativa e que a sensação térmica de virar uma madrugada na rua seria cruel. No entanto, a certeza de estar a poucos dias de segurar o esperado ingresso de Madonna afastava qualquer medo e anseio.

Depois de um dia inteiro nos programando para a noite, a fome bateu. Bobby, o homem simpático que havia ido ao supermercado, voltara com uma caixa enorme do Habbib’s com esfiha, kibe e pastel de Belém quentinhos para saciarmos nossos estômagos. Fingimos que estávamos sentados num parque bem florido (percebemos que teríamos que usar bastante a criatividade para ficarmos acampados na fila), abrimos uma roda na calçada, sentamos no chão sem nos incomodarmos com a falta de conforto e começamos a matar a fome. Antes, propus um brinde: “Às novas amizades que começam aqui e, lógico, à Madonna!”. Tintin!

Mastigadas daqui, risadas dali, e fomos nos conhecendo melhor como em um verdadeiro jantar entre amigos. Não sei se pelo clima de aventura ou pela comida quentinha, eu estava me sentindo muito bem, muitíssimo empolgado com o que estava vivendo. Tudo era tão calmo na rua que até tinha me acalmado.

Porém, foi só o cheiro da comida se espalhar, que teríamos nossos primeiros visitantes. Olhei para trás e vi um cachorro vira-lata vindo em nossa direção. Ele tinha uma roupinha azul, carinha de fome e olhar de “gatinho do Shrek”. Até aí, normal. Fui pegar outra esfiha na caixa e quando me virei a cena era inusitada. Além do cachorro, mais outros quatro cachorros estavam andando lado-a-lado com ele, na mesma velocidade, meio em câmera lenta, cada um com uma roupinha diferente: uma verde, uma amarela, uma vermelha, uma laranja, além da azul que eu já tinha visto. Parecia uma verdadeira boy-band-canina, com cinco cachorros andando juntinhos no mesmo passo. Não tinha como não rir da cena.

Pensei “Todo vira-lata sempre acompanha um mendigo”. Não deu outra! Em seguida, um mendigo apareceu para puxar papo com a gente. Confesso, dificilmente eu gosto de encarar mendigos, tenho um certo receio. Mas desta vez tudo seria diferente. Resolvi encará-lo e…Meu Deus!!! Juro por tudo o que é mais sagrado: era o mendigo mais lindo que eu já vi em toda a minha vida! Loirinho, olhos claros, barbinha por fazer, um rosto quadrado incrível. Não podia ser mendigo, não é possível. Lógico, suas roupas esgarçadas e sujas demonstravam que ele vivia na rua. Mesmo assim não consegui não pensar “ahh, depois de um belo banho (de água quente e de loja) ele super estaria no ponto!”. Fiquei alimentando meu fetiche (?!) enquanto ele puxava assunto.

“Mano, vocês são chique hein, com barraca e tudo na rua” ele disse. “Será que ele acha que somos, sei lá, uma espécie de mendigos modernos providos de teto?”, pensei. Então explicamos que estávamos lá por causa de um show, para comprar ingressos e tal. “É, os seguranças do Credicard são uns chatos, eles bem que podiam deixar vocês dormirem lá dentro (ele ainda era fofo!!!), mas não adianta, eles são cuzões. Uma vez eu pulei o muro porque queria fugir do frio (ohhhh que dóoo!) mas eles me expulsaram de lá dentro”.

Ficamos conversando durante um tempo, oferecemos esfiha para o mendigo bonito e ele recusou pois uma senhora havia dado comida para ele a pouco tempo. Um verdadeiro gentleman. Alguns minutos depois do encontro ele se despediu. “Boa sorte para vocês aí, qualquer coisa to por aqui”, ele disse quando ia embora. Cheguei à conclusão, depois disso, que ainda havia muita coisa interessante nas ruas de São Paulo que eu ainda precisava conhecer.


domingo, 5 de outubro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 4

“Eu acho importante organizarmos uma espécie de lista de chegada das pessoas, para ver quem vai acampar aqui, quem vai revezar…”
“Sim, isso é essencial para não ter confusão depois”
“Seria interessante se nós anotássemos o nome de todos que vão fazer o revezamento, dividir por barracas, assim fica mais fácil”
“Ótimo, eu trouxe um bloco de notas, podemos fazer a lista nele!”

E aos poucos, com a colaboração de todos, fui construindo as regras de como seria o acampamento:

1 – Cada pessoa, assim que entrar no acampamento, precisar dar o nome de todos que farão revezamento junto com ela.
2 – Todas as pessoas deverão passar pelo acampamento em algum momento até a venda dos ingressos.
3 – O grupo sempre tem que ter no mínimo um representante na fila. Caso seja verificado que não há ninguém do grupo, o grupo é cortado da lista e vai para o fim da fila.
4 – A partir do momento em que uma nova pessoa resolve se juntar ao acampamento, os grupos em sua frente não podem inserir mais nenhum componente na lista, para evitar injustiças de pessoas entrarem na fila só na hora de comprar os ingressos.
5 – Eu ficaria responsável por passar as regras do acampamento para cada nova pessoa que chegasse, assim como iria cuidar da lista de chegada.


Aos poucos, a lista do acampamento foi sendo formada

No entanto, após a formulação das regras, a primeira dúvida surgiu: “Aonde acamparíamos? Ficaríamos dentro do estacionamento do Credicard Hall? Acamparíamos na Marginal Pinheiros? Acharíamos um local mais apropriado?”. A conclusão de todos do grupo foi a de que o ideal seria acamparmos dentro do próprio estacionamento do Credicard Hall, por uma questão de segurança e frio (que nesse momento, por volta das 18h, já se mostrava bem forte).

Fomos conversar com o chefe da segurança sobre a nossa hipótese e ele foi enfático. “A partir das 20h o estacionamento fecha e eu não posso deixar nenhuma barata ficar aqui dentro! Vocês terão que sair!”. Tentamos articular com ele, com outros seguranças, até mesmo com o bombeiro responsável pelo local. Nada! Teríamos que sair. “Poderíamos te dar uma graninha se você nos deixasse ficar aqui. Você não contaria para ninguém, nós também não contaríamos e todos ficariam felizes”. Nem nossa tentativa de suborno funcionou. O segurança havia sido contratado exclusivamente para tomar conta durante 2 meses do local onde aconteceriam as vendas dos shows. Ele não arriscaria seu salário por meia dúzia de pessoas loucas que desejavam acampar no estacionamento.

A hipótese de ficarmos na Marginal havia sido descartada, pois era muito perigosa para se passar uma noite. Resolvemos dar uma volta em todo o quarteirão do Credicard Hall para encontrarmos um lugar mais apropriado. Depois de muito se discutir, percebemos que o melhor local seria ao lado do portão 3, na parte de trás da casa de shows. Lá, a calçada era mais larga, havia bares e movimento na região, além do frio ser menos intenso.

“Vocês tem certeza que podemos ficar aqui?”, perguntei para os vendedores dos bares que lá trabalhavam. “Olha, já vi diversas vezes pessoas acamparem nessa calçada por causa de shows. A polícia militar e a CET nunca impediram ninguém de ficar aqui. Só é um pouco perigoso, fiquem espertos”.

Perigoso? Eu e o santista fomos conversar com um vigia da região, que trabalhava nas três ruas ao lado do Credicard Hall. Prometemos pagar uma caixinha caso ele pudesse vigiar, durante a madrugada, um pouco do nosso acampamento. O senhorzinho, com uma aparência de uns 50 e poucos anos, concordou com nossa idéia, mas não nos deu muita segurança. Percebemos que estaríamos sozinhos.

Para evitarmos que outra fila se formasse à frente do portão oficial, na Marginal Pinheiros, resolvi elaborar uma espécie de comunicado a mão, que o homem simpático passaria para o computador, e que fixaríamos no portão. O aviso dizia que éramos as primeiras pessoas da fila da Madonna e por uma questão de segurança e temperatura (e, lógico, por não podermos ficar dentro da casa de shows) resolvemos montar o acampamento na parte de trás do Credicard Hall. Também dizíamos que já havíamos falado com os seguranças da casa (o que era verdade) sobre o local do acampamento e que eles estariam aptos a pedir a qualquer pessoa que começasse a acampar no Credicard, que ela se direcionasse para nosso acampamento. Assim, evitaríamos a formação de duas filas.

Resolvemos montar apenas uma barraca. Por volta das 22 horas os bares começaram a fechar, a escola ao lado também fechou, os portões do Credicard Hall se fecharam, as luzes se apagaram. Algumas pessoas do acampamento voltariam apenas no dia seguinte. Seriam apenas 5 pessoas: eu, o santista, o menino de Lindóia, um dos primos e o homem simpático. “Peço que ninguém, nessa primeira noite, durma um só momento. Não conhecemos a região, será uma noite perigosa, estamos em poucas pessoas. Vocês topam?”, sugeri e todos aceitaram.

Teríamos 10 horas pela frente até a reabertura dos portões do Credicard Hall, 10 horas de uma madrugada gelada na cidade de São Paulo, 10 horas de silêncio na rua, 10 horas de um perigo iminente a cada carro que passasse na frente de nossa barraca. Teríamos que controlar nosso sono, nossa paciência e nosso frio. O homem simpático sugeriu ir ao supermercado mais próximo comprar comida e bebida para a gente. Juntei a idéia de ter sono e passar frio e não pensei duas vezes: “Me traz duas latinhas de energético, por favor!”.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 3

Acordei na casa de meu amigo sabendo que seria a última noite dormida no conforto de uma cama. As próximas noites seriam de muito frio, chão duro e o barulho ensurdecedor da Marginal . Tomamos um caprichado café-da-manhã preparado pela mãe de Driko, colocando o restante de torta e salgadinhos na mala e rumamos ao Credicard Hall. Desta vez, descemos no metrô Ana Rosa e pegamos o ônibus que eu pego todos os dias para ir trabalhar (agora eu havia aprendido!). No ônibus, extremamente lotado, descobrimos que teríamos que descer do outro lado da Marginal Pinheiro. Mas nada que mais um ônibus e a integração do bilhete único não pudesse nos ajudar.

Desembarcamos no Credicard Hall por volta das 13h30, aparentemente vazio. Falei “oi” para o chefe da segurança que eu conhecera na noite anterior e nos direcionamos para a tenda montada no estacionamento. Ninguém estava lá, mais uma vez. Colocamos as malas na gande das futuras bilheterias e sentamos no chão. Dez minutos se passaram e nada. Vinte minutos. Meia hora. Nada!



“Vamos montar a barraca?”.
Encontramos uma maneira de passar o tempo e o frio aterrorizante que estava naquela tarde. Mas confesso: não foi tão fácil assim. Muitos e muitos minutos de paciência foram precisos. Muitas risadas e olhadas no manual e conseguimos montar a barraca. Entramos nela para nos protegermos do frio.



Dez minutos. Meia Hora. 1 hora. Nem sinal de vida de mais pessoas. Resolvi dar uma volta no Credicard. Parado, olhando o trânsito da Marginal, percebi uma movimentação em um dos portões. Um homem chegava com diversas malas, sendo auxiliado por um casal. Associei malas + portão de entrada do Credicard = acampamento! “Vocês vieram para acampar na fila dos ingressos da Madonna?”. Fiquei muito feliz com a resposta positiva das pessoas. “Me acompanhem, o acampamento está sendo formado ali dentro. Meu nome é Paulo, sou o 1º da fila”. “Ahhh, então você é o Paulinho, da comunidade da Madonna?!”. Pois é, muitas pessoas já sabiam de minha existência, tal tinha sido o tumulto de minhas mensagens na noite anterior.

Nos apresentemos. Um dos homens, o primeiro a chegar com as malas, tinha por volta de 30 anos, era de Santos e apresentava uma pinta de malandro e jeito de “arranjo encrencas facilmente”. O casal iria emprestar sua barraca para ele. Além deles, um outro homem, com um jeito bastante simpático e sociável, me disse que estava sentado na Marginal desde o começo da manhã e iria se juntar ao grupo. Pouco tempo depois, outros dois meninos chegaram, dois primos, muito simpáticos. Além deles, mais um menino, com uma mala pequena e um sorrisão no rosto, vindo diretamente de Lindóia, cidadezinha divisa com Minas, e uma menina, que não iria ficar naquela noite, mas que estava disposta a entrar na brincadeira. O acampamento enfim começava a se formar.