quarta-feira, 31 de março de 2010

Realidade dourada

Sou fã de BBB e já disse isso muitas vezes. O programa é muito interessante visto por diversos ângulos, seja por puro entretenimento, seja por análise de nossa sociedade. A final do programa, realizada na noite de ontem, provou o porquê eu tenho um pouco de nojo de viver em nossa tão "moderna sociedade".

Para mim este BBB foi uma prova do quanto nossa sociedade é sim preconceituosa, ignorante e homofóbica. Afirmo isso com base em alguns (vários) comentários que eu li em vídeos do BBB no Youtube. No vídeo da eliminação do Dicesar, participante gay assumido, por exemplo, dois comentários me chamaram a atenção: "ainda bem que o dourado tirou essas "bichinhas"...agora sim o programa ficou decente" e "não sei como a globo foi colocar seres humanos ao lado de gays num mesmo programa".

Esse é o pensamento do público que elegeu Dourado, um público que até pode aceitar gays, contanto que eles fiquem escondidos, discretos, sem jeitos e trejeitos. O gay não pode ser feminino, mas o homem heterossexual pode ser machista, cuspir no chão e coçar o saco? Muita hipocrisia não acham?

Mas não adianta xingar a Globo, sugerir manipulação de votos e tentar mil justificativas. Não. A única explicação é: nossa sociedade é assim. Dourado sentiu nojo e perdeu a fome quando os participantes falavam de relações gays, mas Dourado não foi homofóbico. O mesmo serve para aquele seu tio que faz piada sobre negros, mas ele não é racista. Ou quem sabe para você que respeita o cara que mora na favela, mas que ele não namore sua filha. O preconceito é velado, mascarado, deturpado, mas ele está lá, continua sendo explícito.

E, o pior, mesmo explícito, ele sempre é justificável. "Mas o gay não precisa ser feminino né, ele é homem, não mulher...", ou como diria Dourado, "seje gay mas seje homem". Essa talvez seja a frase que explique porque Dourado ganhou: ele recebeu votos de pessoas que acreditam que é preciso que "seje gay mas seje homem", assim, sem correções gramaticais e excesso de "moralismo".

sexta-feira, 19 de março de 2010

Últimas palavras de Babi

Por João Roberto Basile, meu pai

Olá, você chegou, quem mais chegou? Estão todos aqui, que bom, tenho com quem brincar, não tenho cachorros vizinhos amigos nem filhos gerados pra cuidar, então, preciso brincar com alguém, vamos brincar?

Não precisa comida pra mim, basta você me olhar e me fazer um carinho, olha aí, tenho bolinhas pra brincar, vamos brincar?

Não preciso de nada mais do que isso, basta você me dar atenção, todo dia eu te espero chegar em casa, não me canso, é só você colocar a chave no portão que eu já sei que é você, eu vou latir sim, vou fazer festa prá você, é assim que eu declaro meu amor por vocês, não faz mal que eu não tenha como fazer entender, abano meu rabo, é assim que sou....

Ontem ganhei uma massagem com coceira do pai, e uns pedacinhos de queijo, que bom, adoro queijo, espero que não faça mal, mas não estava bem, fui dormir cedo e cansada outra vez, meu pai me aconchegou na minha caminha como sempre, e eu dormi.........

Acordei mal, não conseguia respirar direito, minha mãe me levou pro médico, no caminho imaginei que não iria tomar banho, no caminho senti que algo não estava certo, fui colocada na mesa da médica, Tia Ana, ali eu percebi que algo estava errado, minha família se reuniu do meu lado com lágrimas nos olhos, todos que eu amo, e ao passar da hora senti um frio extremo tomar meu corpo, e um grande aperto em meu coração, como animal que sou não tenho forma de expressão humana, bastou apenas entender que havia chegado minha hora de descanso, que pena, pensei que viveria mais do que isso, mas o Senhor não quis assim, não tenho do que reclamar, foram 11 anos de muito amor com todos meus queridos donos....

Quem sabe na próxima vez eu consiga voltar de verdade na forma de uma criança, e ser amada e tratada dessa mesma forma que fui sendo uma cachorra.................

+ 19 de março de 2010

Últimas palavras de Babi

Por João Roberto Basile, meu pai.

Um último latido



Lembro-me de cada sensação, de cada detalhe...

Era uma terça-feira, feriado de 7 de setembro de 1999, Independência do Brasil. Eu e minha família voltávamos de viagem do interior, após dias muito gostosos de descanso. O carro foi estacionado na garagem, as malas foram sendo retiradas e, ao olhar para o outro lado da rua, eu
a vi. Lá vinha ela, pequena, branquinha, de orelhas champagne, com o tamanho de uma palma, frágil, alegre. Lá vinha ela ao lado de meu vizinho, uma pequena poodle filhote, uma criancinha pedindo colo e carinho.

Meu vizinho "tem 2 meses e pouco essa filhote, deu cria a cachorra lá do sítio...". E ela me olhou e veio na minha direção, como uma cachorrinha de pelúcia. Pulou no meu pé. Eu abaixei. Ela foi para meu colo. Olhei para minha mãe e ela me respondeu com o olhar "sem chances!". Minha mãe sempre teve muito medo de cachorros e eu sabia que jamais teria um em casa.

Mas tentei de novo "mãeeee...só essa noite...". "Sem chances". "Marisa, deixa ela dormir ai na sua casa essa noite só, sem compromisso, deixa o Paulinho brincar com ela essa noite". "Sem chances...tá bom, só essa noite". Embora ninguém afirmasse, todos já sabiam que aquele pequeno floco de neve jamais sairia daquela casa, casa que seria seu lar pelos próximos 10 anos e meio a partir dali.

Foram momentos únicos, de pega-a-bolinha, de corre-atrás-das-borboletas, de brincar-de-morder, de fingir-uivar-que-nem-lobos, de me-pegar-na-escola, de brincar-de-pega-pega, de tantos e tantos e tantos momentos deliciosos. Ela foi muito feliz e nos fez muito feliz.

Hoje ela foi brincar com os outros animais lá no céu e nós, aqui embaixo, sabemos o quanto amamos essa pequena gordinha, o quanto ela foi importante para nossa família, o quanto jamais a esqueceremos. Babi, você tem a eternidade agora para latir alegremente. Fique com Deus!