Um dos principais defeitos que a rotina pode trazer à vida é a incapacidade de nos analisarmos, de aproveitarmos aqueles preciosos 5 minutos para olharmos para nosso umbigo e pensarmos "estou no caminho certo?". Esse nostálgicos momentos acontecem quando menos esperamos: numa noite de chuva rala, num metrô lotado, num olhar vazio deitado na cama, num sorriso escondido por lábios enciumados, por um aglomerado de pessoas vindo em sua direção e você não sabe se as acompanha ou se segue o caminho contrário.
Hoje, caminhando pelas ruas semi-iluminadas da Mooca, tive meu momento. "estou no caminho certo?" Falta pouco menos de 1 mês para eu me formar no curso que escolhi seguir em minha vida, pouco menos de 1 mês para eu falar de boca aberta "sou jornalista". Meu trabalho cada dia que passa me transforma em um melhor profissional, cada dia que passa tenho mais responsabilidades e mais histórias para contar. Minha família não teve mais grandes brigas, minha casa não presenciou mais grandes crises de choro. Meu grupo de amigos se afunilou e hoje os que estão dentro desse funil eu sei que posso contar para a mais tensa crise de tristeza e para o mais profundo ataque de riso, pessoas incondicionais que constroem cada dia meu presente e deixam uma confirmação mais do que verdadeira de meu futuro. E o coração?
O que vivi esses últimos meses deste ano? Paixões passageiras, sentimentalismos baratos e desnecessários, esperanças facilmente escondidas atrás de beijos falsos, desilusões tão rápidas quanto as novas conquistas. Foi e está sendo um ano atípico, perante os meus "namoros duradouros" que já permeei no passado. Hoje, não passam de miniséries amorosas de poucos capítulos.
Mas, há uma coisa que faz parte de minha essência e que jamais deixarei para trás: a vontade de ter uma história de amor eterna. Não, não espero pelo meu príncipe encantado em cima de um cavalo branco, já passei da época idealizadora. Apenas procuro alguém que me faça feliz, que eu o faça feliz e que juntos construamos um relacionamento saudável, baseado em amor, confiança e respeito.
Faz 4 dias que saio com um menino e estou me sentindo bem. Ele é esse príncipe encantado? Talvez sim, talvez não, talvez eu demore anos para descobrir, talvez eu perceba amanhã. O importante é que aprendi a viver cada dia como único, sem grandes idealizações, sem montanhas se movendo enquanto precisam ficar paradas. Aprendi a entender o ritmo do coração e a controlar a impulsividade digna de um ariano. Lógico, dá uma vontade louca de falar "casa comigo?" e arriscar no escuro o tiro. Talvez até isso aconteça quando eu menos precisar. Mas o certo é que aprendi a não fazer isso meu sentido de vido: se tornou a consequência, apenas uma consequência.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Na fila sem Madonna
Capítulo 6
- “Why am I standing on a cloudEvery time you’re around…”
- Fácil! Angel, de álbum Like a Virgin- Acertou!
- “You took a pretty pictureAnd you smashed it into bits…”
- Hummm…já sei! Amazing, de Music.
- Caramba, acertou!
- “Your heart is not open so I must goThe spell has been broken?I loved you so…”
- Adoro essa! The Power of Good Bye…Álbum, humm…Ray of Light
- Puta que pariu, tá certo!
O menino de Lindóia surpreendeu a todos durante a madrugada. Em um simples jogo de adivinhação de músicas, ele mostrou ser realmente o maior fã de Madonna que já havíamos conhecido. Não errava uma só música, conhecia todos os álbuns e até mesmo algumas coreografias (em várias versões!!!). A cada nova brincadeira, ficávamos de boca aberta tamanho era o conhecimento do menino, embora tivesse apenas 21 anos.
Ficamos nos divertindo durante horas com a discografia de Madonna. A rua estava silenciosa, pouquíssimos carros passavam. Então um táxi parou do outro lado da rua. Estranhamos a principio. As portas do carro se abriram e um taxista de aproximadamente 140 quilos veio em nossa direção. O clima estava tenso, não sabíamos o que estava acontecendo. Percebemos que havia ficado um senhor dentro do táxi.
- Quem de vocês é o Wanderlei?
Tive que me segurar para não soltar uma violenta gargalhada. A voz do taxista era a mais engraçada que já ouvi em toda a minha vida. Extremamente anasalada, ela tinha um agudo muito forte. Na hora me veio à cabeça os dubladores de desenhos animados. Virei a cabeça e contive o riso. Percebi que os outros meninos também haviam segurado o riso.
- Não há nenhum Wanderlei aqui!
- Mas vocês não estão na fila pro show da Madonna?
- Sim, estamos, mas somos apenas nós cinco. Não há nenhum wanderlei aqui.
Ele nos olhou com cara de desconfiado. Virou as costas e entrou novamente no táxi. Ficou alguns minutos conversando com o senhor que lá esperava e então voltou.
- O senhor que está comigo pagou uma puta grana para um tal Vanderlei ficar na fila para comprar os ingressos. Segundo o cara, ele já estaria aqui acampado faz dias.
Pois é, o senhor do táxi havia sido enganado. Algum pilantra prometera que ficaria na fila, pegou a grana e sumiu no mundo. Era a primeira injustiça e prova de que as pessoas podem ser ruins que presenciaríamos no acampamento. Logo o taxista entrou no carro e saiu cantando os pneus.
A noite voltou a ficar silenciosa. Depois daquela cena ficamos de olhos mais abertos. De repente, sem que percebemos a movimentação, um carro preto parou à frente de nosso acampamento. Com os vidros com filme escuro, não podíamos ver quem estava dentro. Nossos corações gelaram imediatamente. Quatro homens grande, com cara de poucos amigos, vieram em nossa direção. Não tinha outra explicação pelo naipe: eram cambistas!
- Vocês estão aqui para a fila da Madonna?
- Estamos sim!
- Chegaram quando?
- Hoje.
- Hum…
O santista, nesse momento, tomou à frente do grupo e encarou os cambistas. Eu já estava com tudo fechado no meu corpo, tamanho era o medo. O cambista empinou o nariz e ficou cara-a-cara com um dos cambistas.
- O que vocês querem?, perguntou o santista
- Nada não, estamos só olhando! Mas tomem cuidado viu, nessa região as pessoas costumam ser assaltadas, barracas costumam sumir, não é bom ficar aqui viu. Melhor vocês voltarem para casa.
Era a primeira ameaça que receberíamos.Talvez se eu estivesse lá sozinho, com certeza já estaria arrumando as coisas e pegando o primeiro ônibus que aparecesse. Mas o santistas estava lá.
-Mermão, nós vamos ficar aqui até o dia das vendas e nada vai nos tirar.
O clima esquentou. Os cambistas ficaram quietos, pensando. Eu fiquei estático, não movimentei um só fio de cabelo.
- A gente está avisando…, e então deram as costas para barraca, entraram no carro e sumiram na noite. O silencio imperou. Olhamos uns para os outros, sem saber o que falar. Eu estava em choque, nunca havia presenciado tal cena.
- As noites serão complicadas. Vamos abrir os olhos galera, essa foi a só a primeira vez. Isso vai acontecer muitas vezes!, alertou o santista e todos se entreolharam.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
domingo, 5 de outubro de 2008
Na fila sem Madonna
Capítulo 4
“Eu acho importante organizarmos uma espécie de lista de chegada das pessoas, para ver quem vai acampar aqui, quem vai revezar…”
“Sim, isso é essencial para não ter confusão depois”
“Seria interessante se nós anotássemos o nome de todos que vão fazer o revezamento, dividir por barracas, assim fica mais fácil”
“Ótimo, eu trouxe um bloco de notas, podemos fazer a lista nele!”
E aos poucos, com a colaboração de todos, fui construindo as regras de como seria o acampamento:
1 – Cada pessoa, assim que entrar no acampamento, precisar dar o nome de todos que farão revezamento junto com ela.
2 – Todas as pessoas deverão passar pelo acampamento em algum momento até a venda dos ingressos.
3 – O grupo sempre tem que ter no mínimo um representante na fila. Caso seja verificado que não há ninguém do grupo, o grupo é cortado da lista e vai para o fim da fila.
4 – A partir do momento em que uma nova pessoa resolve se juntar ao acampamento, os grupos em sua frente não podem inserir mais nenhum componente na lista, para evitar injustiças de pessoas entrarem na fila só na hora de comprar os ingressos.
5 – Eu ficaria responsável por passar as regras do acampamento para cada nova pessoa que chegasse, assim como iria cuidar da lista de chegada.
Aos poucos, a lista do acampamento foi sendo formada
No entanto, após a formulação das regras, a primeira dúvida surgiu: “Aonde acamparíamos? Ficaríamos dentro do estacionamento do Credicard Hall? Acamparíamos na Marginal Pinheiros? Acharíamos um local mais apropriado?”. A conclusão de todos do grupo foi a de que o ideal seria acamparmos dentro do próprio estacionamento do Credicard Hall, por uma questão de segurança e frio (que nesse momento, por volta das 18h, já se mostrava bem forte).
Fomos conversar com o chefe da segurança sobre a nossa hipótese e ele foi enfático. “A partir das 20h o estacionamento fecha e eu não posso deixar nenhuma barata ficar aqui dentro! Vocês terão que sair!”. Tentamos articular com ele, com outros seguranças, até mesmo com o bombeiro responsável pelo local. Nada! Teríamos que sair. “Poderíamos te dar uma graninha se você nos deixasse ficar aqui. Você não contaria para ninguém, nós também não contaríamos e todos ficariam felizes”. Nem nossa tentativa de suborno funcionou. O segurança havia sido contratado exclusivamente para tomar conta durante 2 meses do local onde aconteceriam as vendas dos shows. Ele não arriscaria seu salário por meia dúzia de pessoas loucas que desejavam acampar no estacionamento.
A hipótese de ficarmos na Marginal havia sido descartada, pois era muito perigosa para se passar uma noite. Resolvemos dar uma volta em todo o quarteirão do Credicard Hall para encontrarmos um lugar mais apropriado. Depois de muito se discutir, percebemos que o melhor local seria ao lado do portão 3, na parte de trás da casa de shows. Lá, a calçada era mais larga, havia bares e movimento na região, além do frio ser menos intenso.
“Vocês tem certeza que podemos ficar aqui?”, perguntei para os vendedores dos bares que lá trabalhavam. “Olha, já vi diversas vezes pessoas acamparem nessa calçada por causa de shows. A polícia militar e a CET nunca impediram ninguém de ficar aqui. Só é um pouco perigoso, fiquem espertos”.
Perigoso? Eu e o santista fomos conversar com um vigia da região, que trabalhava nas três ruas ao lado do Credicard Hall. Prometemos pagar uma caixinha caso ele pudesse vigiar, durante a madrugada, um pouco do nosso acampamento. O senhorzinho, com uma aparência de uns 50 e poucos anos, concordou com nossa idéia, mas não nos deu muita segurança. Percebemos que estaríamos sozinhos.
Resolvemos montar apenas uma barraca. Por volta das 22 horas os bares começaram a fechar, a escola ao lado também fechou, os portões do Credicard Hall se fecharam, as luzes se apagaram. Algumas pessoas do acampamento voltariam apenas no dia seguinte. Seriam apenas 5 pessoas: eu, o santista, o menino de Lindóia, um dos primos e o homem simpático. “Peço que ninguém, nessa primeira noite, durma um só momento. Não conhecemos a região, será uma noite perigosa, estamos em poucas pessoas. Vocês topam?”, sugeri e todos aceitaram.
Teríamos 10 horas pela frente até a reabertura dos portões do Credicard Hall, 10 horas de uma madrugada gelada na cidade de São Paulo, 10 horas de silêncio na rua, 10 horas de um perigo iminente a cada carro que passasse na frente de nossa barraca. Teríamos que controlar nosso sono, nossa paciência e nosso frio. O homem simpático sugeriu ir ao supermercado mais próximo comprar comida e bebida para a gente. Juntei a idéia de ter sono e passar frio e não pensei duas vezes: “Me traz duas latinhas de energético, por favor!”.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Na fila sem Madonna
Capítulo 3
Acordei na casa de meu amigo sabendo que seria a última noite dormida no conforto de uma cama. As próximas noites seriam de muito frio, chão duro e o barulho ensurdecedor da Marginal . Tomamos um caprichado café-da-manhã preparado pela mãe de Driko, colocando o restante de torta e salgadinhos na mala e rumamos ao Credicard Hall. Desta vez, descemos no metrô Ana Rosa e pegamos o ônibus que eu pego todos os dias para ir trabalhar (agora eu havia aprendido!). No ônibus, extremamente lotado, descobrimos que teríamos que descer do outro lado da Marginal Pinheiro. Mas nada que mais um ônibus e a integração do bilhete único não pudesse nos ajudar.
Desembarcamos no Credicard Hall por volta das 13h30, aparentemente vazio. Falei “oi” para o chefe da segurança que eu conhecera na noite anterior e nos direcionamos para a tenda montada no estacionamento. Ninguém estava lá, mais uma vez. Colocamos as malas na gande das futuras bilheterias e sentamos no chão. Dez minutos se passaram e nada. Vinte minutos. Meia hora. Nada!
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