quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dor sem dor

Eco distante
ensurdece o peito
me tira o respeito
enlouquece o segundo

Barulho calmante
encaminha o efeito
curva o direito
Esquerdo triunfante

Negação dissimulada
contrária ao desejo
partida amargurada

Relação abandonada
abandono sem cortejo
último beijo e mais nada

domingo, 21 de junho de 2009

Respostas frias de dezembro

Temos medo de nos apaixonarmos. Sabe aquele medo do nada que, no fundo, sabemos que temos medo pois este nada na realidade é tudo. Medo de perdemos a razão, os sentidos, os eixos. E então vem a saudade, fria, triste, solitária e impiedosa. Saudades. Do tempo que passou, mesmo sem passar. Das coisas que perdemos, mesmo elas estão lá, na cabeceira da cama. Os dias frios de sol inquieto me deixam com saudades. Não saudades desses mesmos dias, mas saudades e ponto. Saudades sem explicação. A saudades dos amigos que se vão. E eles se vão, não adianta negar. Saudades dos amores que se vão. Um dia, dói, mas eles se vão. A saudades do próprio ato de sentir saudades. Saudades? Ruim? Saudades. E no escuro, no silêncio respeitoso pelo falar daqueles que estão lá para falar, eu toco minha mão suada na sua perna. Eu te olho, sem você perceber. Eu desejo, eu sonho, eu já sinto saudades. Saudades pois sei que logo tua perna, que agora eu toco, agora já se foi. A noite chegou, o frio baixa, e o último abraço é dado. Mas nossos encontros são incríveis e inesquecíveis como os grandes clássicos do cinema: entre olhares, risadas e bochechas coradas, e terminam com um beijo ingênuo. Saudades. Nostalgia me incomoda e me conforta. Fazia tempo que eu não tocava um joelho, que eu não corava minhas bochechas, que eu não tinha medo de abrir a boca e não calcular cada letra de cada palavra de cada frase de cada conversa. Antes, fluía naturalmente. Agora, me escorrem gotas de medo de que alguma dessas sílabas denunciem o que meus olhos já explicitam. Saudades.