quinta-feira, 26 de março de 2009

A injustiça anda de bicicleta

Eram 10 horas da noite. Eu acabara de desembarcar na estação Consolação do metrô. A noite estava calma, silenciosa, um vazio estranho e desconcertante. Girei a catraca e me dirigi à escada rolante. Meu amigo me ligou avisando que iria atrasar uns 40 minutos. Achei melhor dar uma volta pela Paulista, a avenida que sempre me acolhera em tantos momentos de minha vida. A Avenida em que eu me sentia em casa, respeitado, me sentia confortável. Desembarquei na paulista. O semáforo da Rua Augusta estava fechado. Esperei. "Meus amigos podem estar no bar da loca, acho que vou ligar para esperar meu outro amigo com eles". Foi o que pensei. Atravessei o cruzamento e disquei para um amigo. Ele atendeu. Era sempre bom ouvi-lo com muito burburinho de fundo. "Ele está no bar então, certeza!". Fui caminhando pela calçada da Avenida Paulista. À frente do Banco Safra veio o susto, o momento pelo qual até então eu não havia passado, um medo que não me dava medo pelo soberba de acreditar que jamais aconteceria comigo. Eu avistei a bicicleta vindo rapidamente em minha direção. Um menino negro, mal-encarado, vestido num blusão bastante popular vermelho, olhos fumegantes. Em frações de segundo, desviando das outras pessoas que passeavam pela calçadas, ele chegou ao meu lado. Tudo foi muito rápido. Como uma flecha, ele arrancou o telefone de minhas mãos. Em minha cabeça soava a última palavra dita por meu amigo, a última palavra indo embora nas mãos daqueçe marginal, que rapidamente se dirigiu à esquina e virou na Rua Augusta. Assustado, desnorteado, tomado por uma paralisia momentânea apenas consegui olhar para trás e ver a bicicleta indo embora do alcance de minha vista, rápida, cruel, ríspida. Os olhos me olharam por uma última vez, opressores, ameaçadores. Me diziam "não grite, não venha atrás de mim, deixe-me ir e você ficará ileso". Foi o que fiz. Tremi. Peito apertado. Mãos suando. Eu havia sido assaltado pela primeira vez. Meu celular, velho companheiro de tantas conversas, havia me deixado, partido, roubado. Eu estava impotente, injustiçado, ridicularizado. Era meu primeiro assalto e eu queria apenas chorar.

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