segunda-feira, 6 de julho de 2009

Arquivo morto


Todos nós temos arquivos mortos. Arquivos que já foram armazenadas nas gavetas do passado, com dados, com fotos, com lembranças, com sentimentos. Arquivos que estão lá, intactos. Mortos pelo passar do tempo, mas tão vivos como se fossem no presente. As lembranças mataram esses arquivos, mas o cheiro deles, o brilho, o olhar, o sorriso, ah, o sorriso, esses arquivos ainda pulsam de vez em quando. De tempos em tempos nós abrimos as gavetas, vamos ao fundo dos arquivos, resolvemos investigar o passado tal qual um investigador que procura provas para incriminar um homicida que nunca foi acusado. Fechamos os olhos, abrimos a lupa e visualizamos cada letra, cada número, cada pedacinho milimetricamente calculado desse arquivo. E por mais morto que esteja, ele ainda pode ser cruel. É aquele último abraço que nunca foi dado, é aquela mensagem engolida com lágrimas salgadas, é aquele perdão que foi doloroso de ser dado. É aquela ligação que desconstruiu todo o sonho, é aquela fuga do cinema em silencio, é aquela mão que encolheu e não mais pegou na minha mão. É aquela mentira contada, é aquele sumiço desentendido, é aquela mudança de olhar. Arquivos mortos, quem não os tem? Que não os teme? Quem ainda acha que não estão mortos? Quem ainda não consegue entender que adora são apenas, e não há como mudar, simples arquivos? E por mais que estejam mortos, às vezes eles voltam, com uma nova roupagem, com uma nova lembrança velha esquecida, com um novo formato, numa segunda pós domingo pós sábado pós sexta-feira qualquer. E se vão. Sempre se vão. Mortos, arquivos, mas não esquecidos. Apenas armazenados numa gaveta escura e empoeirada, que de vez em quando necessita de uma limpeza. E você, quando foi a última vez que limpou seus arquivos?

2 comentários:

Lukas Andreozzi disse...

Sabe, memórias são coisas engraçadas mesmo.Penso exatamente da mesma forma de que tudo que já passei, memórias boas ou ruins e lembranças estão mesmo dentro de caixas em uma sala cheia de armários que nem na imagem acima...

É bom sempre a gente lembrar do passado, não vivendo eles, mas revivendo para se dar o devido valor por toda nossa tragetória.

rnt disse...

Mas se eu tivesse ficado com todos aqueles arquivos, vivos, teria sido diferente? Eu penso sempre nisso, e as vezes cometo a ação de interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia, livro – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.