terça-feira, 26 de janeiro de 2010

BBB X GLS

Uns dizem que é um programa fútil, de baixa qualidade. Outros são telespectadores convictos e não perdem uma edição sequer. Opiniões à parte, o Big Brother Brasil chegou a sua 10ª edição provando que o formato ainda tem fôlego no país e a receita, tanto de faturamento, quanto de audiência, ainda é alta. Boa parte desse sucesso se deve a sua produção, que em 10 edições sempre conseguiu inovar, seja na escolhas das regras, na dinâmica do grupo ou dos participantes escolhidos.

Essa edição ttem como diferencial a escolha do elenco: três participantes da casa assumidamente gays, além de tantos outros simpatizantes e, dizem, alguns bissexuais. O que levou a Globo a escalar essas pessoas? Respeito à diversidade sexual? Vontade de incluir a minoria? Ou apenas interesses em polêmicas, brigas e, consequentemente, aumento de audiência. A resposta talvez seja visível na forma como esse elenco foi abordado.

"Poxa, que legal, gays em horário nobre, sem medo de falar o que pensam, o que sentem, e a Globo mostrando tudo isso. Que respeito legal da emissora...". Essa opinião por um lado é verdadeira; realmente nunca na história do programa tantos participantes se declararam homossexuais e o assunto foi tratado tão claramente. No entanto, quando pensávamos que a inclusão da sigla GLS no BBB seria feita de maneira natural, espontânea, a dinâmica de jogo pôde mostrar que isso seria um erro.

"A casa será dividida em grupos". E lá foram rotular os 3 gays no grupo dos "coloridos". E lá foram colocar uniformes de arco-íris neles. E lá foram intensificar hinos gays como "YMCA" nas festas. E lá foram induzir o preconceito contra gays. E lá foi a Globo acabar com o "respeito à diversidade sexual" que muito poderia ter sido realizado.

Não entendo muito esse pensamento heteressexual de que "é gay, então tem que ficar junto com outros gays". Afinal, porque os 3 gays necessariamente têm que ficar juntos? Só porque têm preferências sexuais por pessoas do mesmo sexo? É aquela velha história que sempre me irritou entre amigos heterossexuais: "Nossa, eu tenho um amigo para te apresentar, ela também é gay, você vai adorar!". Perae! Eu tenho que gostar da pessoa só porque ela TAMBÉM É GAY? Seria o mesmo que eu chegar para um amigo heterossexual e falar "tenho que te apresentar uma mulher, ela também é heterossexual, você vai adorar!", e então trazer uma senhora de 64 anos, 125 kilos e sem dentes. Uai, ela é heterossexual, ele vai adorá-la!

Demonstrações da diversidade sexual são importantes até o ponto que as pessoas passam a ser descartadas como indivíduos e se tornam vistas sob rótulos. Na televisão brasileira infelizmente ainda vivemos com personagens gays em dois opostos: ou o gay pintosérrimo, que se traveste, que usa rosa, que fala fino e adora plumas, ou o gay "novela das 8", aquele que gosta de homem, as pessoas até sabem que ele gosta de homens, mas ele nunca nem esconstará em outro homem. É o gay assombração, ele existe na ideia, mas na prática ele é um fantasma.

Para finalizar, me perguntam o que acho dos personagens gays do BBB. Respondo: o gay afeminado, que dá pinta, que faz caras e bocas e usa muita maquiagem, o chamado "gay Zorra Total"; a drag-queen que só pelo falo de ser drag-queen já entra na categoria "personagem-comédia"; e, na minha opinião, a mais autêntica personagem gay do programa, a sapatão, que não se envolve com brigas, que não levanta a bandeira gay em cima da cabeça e que não tem como único assunto o "preconceito dos heteros contra os gays". É a mulher que gosta de outras mulheres, e ponto, sem delongas, sem exageros, sem personificações. Mas ela não faz comédia, porque ela é discreta. Talvez, por isso, provavelmente ela será eliminada na noite de hoje. Espero que não.

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