quinta-feira, 24 de julho de 2008

Gays: uma caixinha de surpresas

Vou pegar carona no último post do Augusto, o editor de arte da DOM, sobre Madonna na capa da revista e quero fazer uma espécie de desabafo-discussão aqui no blog (afinal, esse é um dos papéis deste veículo, certo?). Desde que entrei na DOM e comecei a ganhar um maior contato com o público gay (não como participante, como era antes, e sim como observador), tive a oportunidade de poder analisar as diversas e, muitas vezes, controversas opiniões dos leitores. Eu acho que o post do Augusto consegue ilustrar bem o que quero (embora não saiba se conseguirei sem parecer arrogante) demonstrar.

Por que falamos incessantemente de Madonna nos veículos assumidamente gays (e em tantos outros enrustidos)? Será que pisamos sempre na tecla clichê e não abrimos espaço para novas “musas”? Por que, enfim, os gays idolatram essa cantora?

A grande questão não é conseguir responder a essas perguntas e sim usá-las de gancho para um dos temas centrais dos pensamentos que quero desenvolver. As revistas gays têm que necessariamente retratar assuntos gays? Concordam ou discordam?

Essa foi uma das perguntas questionadas no debate A Homossexualidade na Mídia, promovida na última semana na Caixa Cultural, em São Paulo. O evento contou com a participação de Rodrigo de Araújo, da G Magazine, André Fischer, da Junior e nosso Valmir Junior, da DOM. Aparentemente, quando se lê essa pergunta, vem à cabeça a resposta “não, podemos falar de tudo!”. Sim, realmente pode-se falar de tudo, mas será que é isso que o público quer? Partindo do pressuposto que uma revista segmentada significa que ela irá atingir um público específico, entende-se que o assunto de público também será específico. Concordam ou discordam?

Não que necessariamente só se deva falar sobre “os clichês gays”. Não, longe de ser um veículo que exclua os demais públicos. No entanto, por que ler uma matéria na DOM ou em qualquer outro veículo voltado para o público gay, que facilmente poderia ser lido numa Veja, Superinteressante, Isto É, Carta Capital…? Concordam ou discordam?

Vamos lá, serei ainda mais específico agora. Os gays querem fugir da visão estereotipada que o mundo tem deles, certo? Queremos mostrar que temos conteúdo, cultura, somos inteligentes, trabalhamos e tudo o mais. Okay, até esse pensamento já virou clichê. Então vamos para a questão da capa, por exemplo, da DOM. Muitos leitores reclamam que não temos um gay assumido na capa. Concordo, uma reclamação completamente relevante.

Agora vamos a uma suposição: digamos que colocaríamos um gay em nossa capa, famoso, baixinho, barrigudo, feio, aparentemente desinteressante. Não haveria na revista homens lindos, modelos gostosos, ensaios quentes. O que vocês achariam? Sejam sinceros, aqui pode! A revista ficaria mais interessante? Concordam ou discordam?

Vamos lá, mais uma questão: ser gay… mas tem que participar? Pergunto isso por conta de uma das famosas reuniões no almoço/café com a redação da DOM, onde discutimos desde o filme visto na Sessão da Tarde (minto, porque nessa hora estamos trabalhando!) até as discussões filosóficas do mundo contemporâneo. Assim como já discutimos se existe ou não moda gay (que o Jorge já até comentou sobre isso no blog da DOM), desta vez nos questionamos, novamente, sobre os clichês do mundo gay.

“Não saio de balada, não aprecio música eletrônica, não sou adepto ao mundo da musculação, não acho legal a Parada Gay, não uso marcas de roupa da moda, não idolatro Madonna… Sou menos gay que os outros gays?”

Entendem onde quero chegar? O problema de nós gays é que muitas vezes colocamos todos os gays num só saco e queremos que sejam tratados da mesma maneira, com os mesmos pré-conceitos. Sim, gays são extremamente preconceituosos e, pior, com eles próprios. É como querer colocar todos os heterossexuais juntos e dizer que são iguais. A única coisa que nos diferencia é o fato da preferência sexual. Concordam ou discordam?

Por que não um hétero que acampe 10 dias antes na fila do show para ver a apresentação da Madonna no Brasil? Ou quem sabe um gay que fique no meio da Gaviões da Fiel e delire com o gol do Corinthians? Por que temos que separar tudo e estereotipar? Ahhh… meu Deus, a palavra que tanto usamos voltou para nós mesmos: estereótipo. Será que os outros nos colocam em estereótipos ou nós mesmos? Concordam ou discordam?

Agora entendem como é mais difícil do que parece fazer uma revista voltada para o público gay? Está muito além de colocar um rosto bonito na capa ou fazer uma matéria polêmica. Escrevemos não para um público e sim para diversos públicos, cada um com suas características, desejos e angústias. Talvez um sub-grupo não se identifique conosco hoje, talvez amanhã nos ame e depois de amanhã nos odeie. Mas acreditem: nós fazemos, ou tentamos fazer, de tudo para entender vocês. Talvez respondendo aos meus diversos “Concordam ou discordam?” deste post seria um bom caminho.

Boa digestão dos meus caracteres.

Um comentário:

Unknown disse...

nossa tenho que esperar um pouco pq eh mta coisa coisa de cara.
bom falamos de madonna pq ela é uma artista que mesmo com anos de carreira ainda vende mto e faz um puta sucesso. acho que gays idolatram ela assim como mtas mulheres resolvidas, desde os anos 80 ela é exemplo de liberdade sexual.
acho que as revistas nao precisam só falar de assuntos gays, elas tem que falar de assuntos normais sobre uma visao gay, isso que torna uma revista segmentada diferente das outras.
realmente se tivesse uma capa com um cara sem graça nao venderia mto, a nao ser se ele fosse bem conhecido e talz.
e acho que o esteriotipo sempre vai existir, e nao só dentro do mundo gay. tipo um rapper, vc imagina como ele eh, como se veste e sabe diferenciar um no meio de um monte de emos. eu acredito que separar as pessoas por classes ou nichos é normal. a gente faz isso sem perceber, nosso cerebro classifica e separa tudo pra organizar a memoria.
o dificil em fazer uma revista gay, é que a unica coisa em comum entre os leitores é o fato de gostarem do mesmo sexo. tipo em uma revista sobre futebol, vc fala tudo de futebol, todo mundo que goste de futebol vai comprar. em uma revista gay, vc tem que procurar o ponto de equilibrio, oq a maioria tem em comum e com isso a revista vai agradar o maior numero de pessoas.
eu nem sei se oq eu falei faz mto sentido, acho que nunca comentei tanto assim em um blog na minha vida.