quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 3

Acordei na casa de meu amigo sabendo que seria a última noite dormida no conforto de uma cama. As próximas noites seriam de muito frio, chão duro e o barulho ensurdecedor da Marginal . Tomamos um caprichado café-da-manhã preparado pela mãe de Driko, colocando o restante de torta e salgadinhos na mala e rumamos ao Credicard Hall. Desta vez, descemos no metrô Ana Rosa e pegamos o ônibus que eu pego todos os dias para ir trabalhar (agora eu havia aprendido!). No ônibus, extremamente lotado, descobrimos que teríamos que descer do outro lado da Marginal Pinheiro. Mas nada que mais um ônibus e a integração do bilhete único não pudesse nos ajudar.

Desembarcamos no Credicard Hall por volta das 13h30, aparentemente vazio. Falei “oi” para o chefe da segurança que eu conhecera na noite anterior e nos direcionamos para a tenda montada no estacionamento. Ninguém estava lá, mais uma vez. Colocamos as malas na gande das futuras bilheterias e sentamos no chão. Dez minutos se passaram e nada. Vinte minutos. Meia hora. Nada!



“Vamos montar a barraca?”.
Encontramos uma maneira de passar o tempo e o frio aterrorizante que estava naquela tarde. Mas confesso: não foi tão fácil assim. Muitos e muitos minutos de paciência foram precisos. Muitas risadas e olhadas no manual e conseguimos montar a barraca. Entramos nela para nos protegermos do frio.



Dez minutos. Meia Hora. 1 hora. Nem sinal de vida de mais pessoas. Resolvi dar uma volta no Credicard. Parado, olhando o trânsito da Marginal, percebi uma movimentação em um dos portões. Um homem chegava com diversas malas, sendo auxiliado por um casal. Associei malas + portão de entrada do Credicard = acampamento! “Vocês vieram para acampar na fila dos ingressos da Madonna?”. Fiquei muito feliz com a resposta positiva das pessoas. “Me acompanhem, o acampamento está sendo formado ali dentro. Meu nome é Paulo, sou o 1º da fila”. “Ahhh, então você é o Paulinho, da comunidade da Madonna?!”. Pois é, muitas pessoas já sabiam de minha existência, tal tinha sido o tumulto de minhas mensagens na noite anterior.

Nos apresentemos. Um dos homens, o primeiro a chegar com as malas, tinha por volta de 30 anos, era de Santos e apresentava uma pinta de malandro e jeito de “arranjo encrencas facilmente”. O casal iria emprestar sua barraca para ele. Além deles, um outro homem, com um jeito bastante simpático e sociável, me disse que estava sentado na Marginal desde o começo da manhã e iria se juntar ao grupo. Pouco tempo depois, outros dois meninos chegaram, dois primos, muito simpáticos. Além deles, mais um menino, com uma mala pequena e um sorrisão no rosto, vindo diretamente de Lindóia, cidadezinha divisa com Minas, e uma menina, que não iria ficar naquela noite, mas que estava disposta a entrar na brincadeira. O acampamento enfim começava a se formar.

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