sábado, 5 de dezembro de 2009

Em busca de verdades

Se há uma coisa que um grande jornalista deve saber fazer é contar uma boa história. Uma dádiva descrita por Clóvis Rossi como “uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes”. Talvez pelo fato de que meu próprio nascimento tenha sido um emaranhado de inusitadas histórias que me identifiquei com esta arte chamada jornalismo.
Minha história não começa apenas no dia 18 de abril de 1987, um sábado de aleluia na hoje movimentada Rua Frei Caneca, em São Paulo, quando abri os olhos e esbocei meus primeiros sons. Não, a história começa alguns anos antes. João Roberto Basile, engenheiro de uma multinacional de telefonia, casa-se com Marisa Miniaci, secretária executiva formada em magistério, e juntos começam a formar sua família. Logo surge Thais Miniaci Basile, uma linda criança de sorriso fácil.
Mas a felicidade passou por turbulências quando a vontade foi dar um irmão para a pequena Thais. O primeiro baque foi uma gestação de poucos meses ter sido interrompida abruptamente, mas não junto com o sonho de um novo bebê. Porém, o segundo tombo foi ainda maior: Lívia, um lindo bebê que ingetara ânimo para a família Basile, após poucas semanas de vida fechou os olhos sob o leito de um hospital.
A névoa pairou sobre a casa daquela típica família italiana do bairro da Mooca, até que João se pronunciou: “vamos adotar uma criança?”. E então parágrafos se escreveram. A pequena Thais tinha uma colega de escola, que tinha uma mãe, que tinha a empregada doméstica Rosa, que engravidou de um jovem e fora abandonada. Grávida e sozinha, assim que nascesse o filho, ela o daria para quem pudesse dar um futuro melhor à criança.
No dia 19 de abril de 1987, aniversário de Roberto, um belo domingo de Páscoa, ele segurou nas mãos o pequeno Paulo Roberto, cujo nome composto seria a homenagem que Marisa daria pela coragem de incentivar a adoção. Rosa nunca mais apareceria, seu nome apenas ficaria marcado nesta história.
Se não tivesse me aprofundado nestas reviravoltas, eu poderia pensar que meu nascimento fora igual a de milhões de outros ao redor do mundo. Talvez para os outros tenha sido apenas mais um nascimento; para mim, era a minha grande investigação, a minha verdadeira história que precisei encontrar. “Jornalismo é investigação sempre - quer ele resulte na renúncia de um presidente da República ou no fechamento de um buraco de rua que atrapalha o trânsito”, já descreveu brilhantemente Ricardo Noblat.
Talvez eu tenha escolhido levar e ser levado pelo jornalismo pelo fato de ser apaixonado por investigação. Mas não só a pesada investigação política de um Watergate ou o empenho demasiado – e triste fim – de um Tim Lopes pela densa rede do crime organizado no Brasil. É a investigação pela pura verdade, pela história do exato jeito que aconteceu, pela busca dos reais personagens, pelo árduo trabalho de informar sem enformar o público. “Persiga a verdade constantemente, porque essa é a missão do jornalista, que tem de escrever a história a cada dia”, disse certa vez o jornalista Augusto Nunes.
Tão valorizada, a verdade também é extremamente temida. Uma verdade que teve que lutar contra a covarde censura, que teve que sobreviver ao Departamento de Imprensa e Propaganda, que muitas vezes morreu calada nos porões do DOI-Codi. O papel do jornalista é saber dar voz a esta verdade que nunca pode ser apagada, na busca de respostas a perguntas que sempre fazemos.
Antes de prestar vestibular, pedi a uma jornalista que conheci na internet o maior conselho que um futuro jornalista deveria receber. Lembro-me de cada palavra: “Nunca deixe o ego se tornar maior do que a notícia. O ego é só seu; a notícia, de todos!”. Escolhi o jornalismo porque meu ego, minhas notícias, minhas histórias, já as tenho para mim. Já as verdades que ultrapassam os portões de minha casa, estas eu, sob o delicioso papel de jornalista, quero encontrar para os outros, sejam leitores, telespectadores ou ouvintes.

*texto enviado por mim para me candidatar a uma vaga no Curso Abril de Jornalismo. Não passei...

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