quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Mais candidatos

Dando continuidade a minha saga cinematográfica dos candidatos ao Oscar 2009, hoje falarei de dois filmes com histórias muito distintas, mas que tem um denominador comum bastante forte: a dúvida. Os protagonistasde hoje no blog são os longas-metragem "Doubt" [Dúvida], escrito e dirigido por John Patrick Shanley, e "Revolutionary Road" [Foi apenas um sonho], de Sam Mendes.



"Doubt" traz uma história delicada e um elenco de grande peso. Não é à toa que quatro das cinco estatuetas que o filme concorre nesta edição do Oscar ficam por conta da atuação de três atrizes e um ator: uma incomparável Meryl Streep, que concorre ao Oscar de melhor atriz no papel da fria e áspera Irmã Aloysius, uma delicada Amy Adams, concorrente ao prêmio de melhor atriz coadjuvante no papel da doce Irmã James, um convicente Philip Seymour Hoffman, candidato à estatueta de melhor ator coadjuvante pelo papel de Padre Brendam Flynn, e uma surpreendente Viola Davis, também concorrente ao Oscar de atriz coadjuvante pela personagem Mrs. Miller.

Aliás, para vocês terem idéia da consagração das atuações, Viola Davis concorre ao prêmio tendo participado de apenas uma cena, menos que 10 minutos de atuação, mas cujos diálogos que a personagem troca com a de Meryl Streep penetram na cabeça e anestesiam o coração.

Baseado na peça de sua própria autoria (vencedora de quatro prêmios Tony), "Doubt" permeia o vão existente entre religião e moralidade, com o confronto de uma freira que acredita que o padre responsável pela região tenha abusado de um jovem negro. A partir desta dúvida, a história se desenrola com uma série de outras dúvidas, fofocas e quase-certezas. O filme aborda a questão de "até que ponto devemos acreditar em algo sem ter certeza? Até que ponto nossa certeza se torna verdade, mesmo sem ser provada? Até que ponto provas são necessárias".

Um verdadeiro show de atuação em assuntos delicadíssimos como o abuso de crianças na igreja e o preconceito racial. Um filme que incomoda com sutileza, principalmente pensado-se nos diversos casos semelhantes que já aconteceram e sempre acontecem na Igreja.



Já "Revolutionary Road" discute não a dúvida para com as outras pessoas, e sim para suas próprias vidas. No caso, as vidas dos dois personagens centrais, o casal Frank e April Wheeler. A produção marca a volta de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet trabalhando juntos, mais de uma década após o sucesso Titanic.

Vivido na década de 50, o filme trata da felicidade do casal a partir do "american way of life", o idealismo de vida criado nos Estados Unidos e difundido intensamente nos quatro cantos do planeta. O casal Wheeler, visto pela sociedade em que vivem como um casal perfeito, uma família única, duas pessoas especiais, quando observados dentro de sua própria casa, percebe-se que não ha tanta felicidade quanto todos pensam. Quando param para olhar para si próprios, a dúvida da real felicidade cai sobre o casal. "Estamos indo na direção certa? Nosso casamento é feliz? Nós somos felizes?".

Leonardo e Kate estão impecáveis em suas atuações e levam o desenrolar da história, muitas vezes bastante parada, facilmente nas costas. Infelizmente e injustamente ambos não receberam indicações ao Oscar de melhores atores [vale lembra que Kate concorre ao de melhor atriz pelo filme "O Leitor", que falarei aqui futuramente]. No entanto, outro ator de dá um show de interpretação, e este sim alçou sua candidatura à estatueta de ator coadjuvante, é Michael Shannon, no papel de um homem com problemas mentais mas que não tem medo de falar a verdade, de provar ao casal Wheeler o quanto eles são infelizes e o quanto se enganam para não morrerem nessa infelicidade. Um sarcasmo, uma ironia e um ar de "eu sei a resposta" impressionantes.

O filme ainda concorre aos Oscars de Melhor Direção de Arte e Melhor Figurido, não sendo favorito em nenhuma das categorias.

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