quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Caminho das Índias

Não, não escreverei sobre a chatíssima novela de Glória Perez, clone de seu próprio Clone, se é que vocês se lembram. A Índia que acaba de me encantar, e não pelos véus coloridos e danças tradicionais, e sim pela miséria e desgraça de seu povo, é a retratada no filme "Quem quer ser um milionário" [Slumdog Millionaire], de Danny Boyle. O longa-metragem, rodado nas Índias, concorre ao Oscar de melhor filme de 2009, e é um dos favoritos.

Por onde passou, Slumdog abocanhou mais de 30 prêmios ao redor do mundo, tendo conquistado o Prêmio do Público em Toronto, o Globo de Ouro, o Prêmio do Sindicato dos Produtores e diversos outros pequenos prêmios da crítica. Prêmios para "millionaire" não botar defeito.

O filme narra a história de um garoto indiano, morador de uma favela, pobre e simples assistente de operador de telemarketing, que vai a um programa de televisão famoso chamado "Quem quer ser um milionário" e, a partir de cada pergunta respondinda, são desencadeadas uma série de lembranças na vida do menino. Com uma edição brilhante, a cada pergunta a história vai e volta ao passado, procurando respostas e encontrando lembranças.

Porém, o grande foco da história é o amor, a busca por Latika, uma menina cujo personagem principal, o participante Jamal Malik, é apaixonado. A história vai se desenhando com uma série de encontros e desencontros, sem um único beijo e com muitos olhares que falam mais do que palavras.

O filme conta com uma fotografia arrasadora e uma trilha sonora impecável, que também foram colocadas a teste concorrendo aos Oscars em suas respectivas categorias. Ao todo, "Quem quer ser um milionário" concorre a 10 estatuetas douradas.

Não deixem de assistar, é um tipo de filme que te arranca sorrisos, lágrimas e deixa sua mão suando de ansiedade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Meu amor concreto


O aniversário foi ontem, mas resolvei deixar para hoje as considerações. Ela é antiga [455 aninhos com carinha de 400], ela é cinza [com direito a muita pedra, asfalto e concreto], ela é imponente, importante, movimentada, ela não dorme, às vezes não sai sorri, às vezes chora muito, mas sempre nos faz rir, ela tem extremos, tem histórias, tem filosofias de vida, tem amores, tem amigos, tem famílias, tem beleza, ela é cheia e às vezes solitária, ela é bagunceira e muitas vezes tem uma bagunça organizada, ela é o cáos e a salvação, ela é a fome e a oferta de emprega, ela é o Parque do Ibirapuera, ela é a Avenida Paulista, ela é o Masp, o Trianon, a Praça da República, ela é a Mooca, é o Brás, é a Torre do Banespa, ela é o 23 de maio e a Rua das Noivas, ela é a Frei Caneca e a Oscar Freire, ela é a 25 de março e o sambódromo, ela é a Marginal Tietê e o Rio Pinheiros, ela é shopping, é museu, é teatro, é cinema, é balada, é restaurante japonês, indiano e francês, ela é amor, é beijo na boca, é esperança, ela é gigante e um ovo, ela é intensa e simples, ela é uma cidade e um mundo...ela é meu verdadeiro amor, um amor que jamais abandonarei. São Paulo, te amo!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quando a poeira baixa

Em cidades como São Paulo, embora grandiosas, exuberantes e movimentadas, não é difícil você encontrar um velho amigo ou um antigo amor em uma esquina, quando menos espera. A megalópole, norteada pela rede de relacionamentos dos mais variados tipos possíveis, se torna uma uma cidadezinha de interior. Mas, quando se trata de amores, será que é fácil lidar com a possibilidade de encontrar um ex-namorado no próximo quarteirão?

Estive pensando: histórias de amor têm começo, meio e fim. Okey, a maioria delas, mas sempre haverão, ainda bem, aquelas histórias que param no meio e nunca chegam ao fim. Que bom, ainda há esperança. Mas, as outras histórias, que acabam terminando, elas podem, tempos depois, novamente recomeçar, no próximo quarteirão. Tratando-se de amor, ele pode ter uma continuação?

"E se tudo fosse diferente?". Quem não se fez essa pergunta ao terminar um namoro? Mas, quando a dor acaba, quando a mágoa escorre pelo ralo, quando as fotografias não mais causam tristeza, quando as feridas se fecharam e os perdões se estabeleceram, o "e se tudo fosse diferente?" pode ser colocado em prática?

Muitas frases clichês são usadas durante um tempo de término: "eu não estava preparado", "seu jeito me sufoca", "não era a hora certa para ficarmos juntos", "não adianta, estamos em sintonias diferentes" e muitas outras que agora, falando friamente, são fáceis de se escrever, mas, na hora, no auge da emoção, no ápice das lágrimas, são extremamente difíceis de serem faladas [e muito menos ouvidas!]. Tempo passa, tempo voa, você está preparado, os "jeitos" amadureceram", você acredita que a hora é a certa, que as sintonias podem se assemelhar. Há uma segunda chance?

Olho para uma aliança guardada no fundo do armário, velha, suja, gasta pelo tempo, reservada pelas consequências. Coloco-o a no dedo novamente. Emoções vêm à cabeça e pensamentos e lembranças brilham em nostalgia. Será que, um dia, eu sairia na rua de novo com ela? Afinal, um amor pode recomeçar?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

E tem...

E tem todo aquele lance do auto-conhecimento
e do conhecimento bi-lateral
aquela sensação de sei o que vai acontecer
mas, por favor, me surpreenda
tem a idéia de rotina anotada
e futuro desconhecido utópico
uma vontade de começar tudo de novo
e, que merda! começou tudo de novo
tem o momento da lágrima
e do sorriso sem graça
tem o momento da saudades
e do fingimento de saudades
tem o apelido carinhoso
e a melosidade desnecessária infantil
tem o começo delirante
e o término desconcertante
Mas, você sabe, eu sei, todos sabemos:
dá sempre vontade, não dá?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A Vila Madonnica

Todos tinham certeza que os shows seriam maravilhosos, que a emoção seria indescritível, que iriam chorar, que iriam pular, que seria o grande espetáculo de suas vidas. A vinda de Madonna, a rainha do pop, o ídolo de milhares de pessoas nesse Brasil imenso, movimentaria vidas, cidades, estados, homens, mulheres, adolescentes, pessoas com uma única certeza: tudo valeria a pena, seja qualquer o esforço realizado para chegar nela.

Mas, os fãs não sabiam que existiria um fator, a princípio visto como "a parte chata do show", que se tornaria um dos momentos mais especiais da vinda de Madonna para o Brasil após 15 anos: o acampamento! Nele, amizades foram firmadas, pessoas reencontradas, amores se criaram, laços incríveis de sentimentos, lealdade, carinho e respeito foram desenvolvidos.

Para alguns, foram poucas horas na fila. Para outros, dias e até semanas para conseguir colocar o corpo o mais próximo da rainha. Eu, assim como na venda dos ingressos, no Credicard Hall, o qual me rendeu uma longa saga que narrei aqui neste blog, novamente acampei 5 dias. Foram 5 dias que mudaram minha vida, sem nenhuma dúvida. Não sou o mesmo Paulinho e digo: que bom que não sou o mesmo Paulinho. As emoções e as amizades que nas calçadas do estádio do Morumbi formei quero levar comigo para o resto de minha vida.

Confiram abaixo alguns momentos de nossa querida "Vila Madonnica"











quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Andando em muros


Os anos passam, os anos chegam, mas meu coração e minhas dúvidas sempre continuam: depois de se relacionar com muitas pessoas, de ter muitos namoros, de se apaixonar, de amar loucamente e de ter isso várias vezes jogado num poço obscuro sem volta e com muito sofrimento, será que acabamos desenvolvendo uma película protetora de envolvimentos? Na novela do amor, quando a história tem muitos capítulos, ela se torna cansativa?

O ano de 2008 foi-me atípico no quesito relacionamentos. Tive dois namoros relâmpagos que mais me sugaram do que me acrescentaram. Em um, o saldo foi inúmeras brigas e um carro batido. O outro, inúmeros xingamentos em minha cabeça e uma pinga mineira falsificada para meu pai. Dentro de mim, nada sobrou, nada valeu. Tive outros mini-relacionamentos com alguns meninos que surgiram na minha vida: um idiota que estava comigo enquanto a credencial do São Paulo Fashion Week continuasse, um que não estava comigo, eu que estava acompanhando o umbigo dele, outro que ficou comigo por pura falta de algo melhor para fazer, e assim por diante. Ou seja, profundidade em sentimentos, zero!

Com tudo isso, acabei me fechando para os relacionamentos e voltei minhas atenções para meus amigos. Os beijos e amassos deram lugar às incansáveis gargalhadas com meus amigos. Eu não precisava mais de homens, eu tinha amigos. Por um lado, ótimo, por outro, a carência afetiva começou a crescer em meu coração.

Hoje estou andando em cima de um muro com cacos de vidro. Se eu pular de um lado, tenho festas, baladas, bocas para serem beijadas e a vida de solteiro que sempre acostumei a ter. Se pular do outro, posso ter uma vida maravilhosa como uma pessoa também maravilhosa. Onde esse muro vai acabar?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"Você foi feliz?"

Olhe para trás e aceite aquela pergunta-clichê que todos se fazem ao olhar para trás nessa semana do ano: "Foi um ano bom?". Olhe para trás e responda aquele velho bordão que você idealizou durante a virada do ano passado: "Cumpri minhas promessas?". Olhe para atrás: "Parei de fumar?", "Fiz mais exercícios?", "Estudei mais?", "Me empenhei no trabalho?", "Consegui um grande amor?", "Fui mais solidário?", "Fui feliz?".

Olho para trás. "Fui feliz?".

Chego ao final de 2008 com um diploma de jornalista embaixo dos braços, uma carreira que já contabiliza 3 revistas, sendo que em uma delas, pela primeira vez, fui considerado realmente equipe fixa, contratado. A revista que me abriu portas, sorrisos e muitos caminhos. No final do ano, a revista ainda não sabe se vai continuar ou não, e eu não sei se estarei na rua ou à frente dela novamente. Bom, então o tópico trabalho fica para 2009.

Chego até essa última semana tendo um ano maravilhoso dentro de casa, com poucas brigas, muito respeito, muita liberdade e muitas vitórias conquistadas. Meus pais ficaram mais unidos novamente, eu e minha irmã também, eu e meus pais também. Em questa casa di italianos, tute ben! Ponto para 2008.

Ah, o amor. Namorei pouco, beijei muito, conheci muita gente, me apaixonei, me envolvi, sofri, chorei, renasci, corri atrás, conquistei e fui conquistado, trepei, mas amor mesmo não fiz. O grande amor fica também para 2009, mas as experiências de 2008 foram bem válidas. E como foram!

Uma das grandes vitórias desse ano eu conto em três palavras: Driko, Markinhos e Bruna. Pela primeira vez em muitos anos me firmei num grupo forte de amigos, aqueles amigos de ligar de madrugadas, de chorar no ombro, de ter ataque de riso, de visitar casa toda semana, de tomar porre junto, cantar no trânsito, respeitar e ser respeitado e amar e ser amado e querer eternamente e ser querido da mesma forma. Esses três entraram definitivamente na minha vida e fizeram meu coração brilhar muito mais. Lógico, não foram os únicos: muitos amigos conheci em 2008 e sei que permanecerão por muitos e muitos anos, não haveria como citar todos aqui. Mas esses três são especiais. O campo das amizades foi a grande certeza deliciosa de 2008.

Teve a saúde que andou tudo bem. Teve as viagens que me fizeram conhecer Fortaleza e Belo Horizonte. Teve os bens materiais que me premiaram com máquina digital, roupas lindas e meu tão sonhado notebook que aqui vos escrevo a la carrie bradshaw. Teve martini. Teve conversas inesquecíveis em meu carro. Teve festinhas. Teve a maravilhosa presença de Madonna, um dos momentos mais incríveis em toda a minha vida. Teve tanta coisa boa.

"Eu fui feliz?". Fui, e como fui. E desejo a todos vocês, leitores fiéis, que desfrutem apenas de um único objetivo em 2009: sejam felizes! A felicidade norteia nossas vidas e ela pode ser garantida em simples momentos como o primeiro raio de sol batendo na buchecha após uma noite acampada na calçada do Credicard Hall esperando o dia para comprar os ingressos do show de Madonna. São momentos como esse que fizeram meu 2008 inesquecível. Feliz ano novo!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Rainha e eu

Foram 15 anos de espera. Quando ela veio pela primeira vez ao Brasil, eu tinha apenas 6 anos. Desconhia a verdadeira proporção de sua fama, de seu sucesso, de sua trajetória no universo pop. Fui crescendo ouvindo seus hits, fui amadurecendo vendos seus clipes, fui me desenvolvendo aprendendo suas letras. Quando, no meio desde ano, fiquei sabendo que Madonna voltaria ao Brasil, percebi que era a oportunidade da minha vida de estar ao lado de meu ícone da música, de participar do sonho que cultivei durante anos: assistir pessoalmente a um show da diva.

A partir de então foi iniciada toda a saga que aqui neste blog eu narrei: dias e noites na fila para comprar ingressos, ameaças de cambistas, amizades conquistadas, organização de listas, lágrimas mescladas com sorrisos. Foram 3 meses de muita ansiedade com os dois ingressos para shows do dia 18 e 20 de dezembro guardados a 7 chaves. E então os shows chegaram no país. Foram mais 7 dias dormindo na rua, acampando em barraca, usando banheiros públicos, tomando chuva e conhecendo pessoas maravilhosos. Tudo para estar ao lado dela.



Foi difícil, cansativo e sufocante, mas quando entrei correndo pelos corredores do Estádio do Morumbi e coloquei minhas mãos na grade do palco e percebi que dali a algumas horas Madonna estaria a 1 metro de distância de mim, neste momento, percebi que tudo havia sido válido. Mergulhei em lágrimas, em soluços, em um choro que desabafou tudo o que eu havia passado para estar lá. A felicidade e a emoção se misturaram às lágrimas do cansaço. Eu havia conseguido!



O show foi muito mais do que eu poderia ter imaginado. Perfeito, impecável, calculado em qualquer mínimo detalhe. Madonna é jovem, simpática, profissional. Ela apresentava uma luz e uma força que eu jamais havia encontrado em qualquer outra pessoa. Ela me olhava e eu ficava hipnotizado, com lágrimas nos olhos. Ela pedia para cantarmos, e nós cantávamos. Ela pedia para dançarmos, e nós dançávamos. Ela era a rainha da noite e nós seus fiéis súditos.

Dois shows e duas noites que ficarão na minha memória para o resto de minha vida. Ficam agora os amigos que lá fiz, as fotos que tirei e os vídeos que comprovam que Madonna esteve ao meu lado e que meu coração agora já não é mais o mesmo!



































terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Milagres natalinos

Muitas pessoas são verdadeiramente apaixonadas pela época de Natal, pelo colorido das luzes, pela animação da troca de presentes, pela reunião na ceia do dia 25, pelo incomparável espírito natalino. Outras simplesmente acham esta época a mais hipócrita do ano, com pessoas que fingem estarem felizes, fingem gostarem do próximo, fingem se preocuparem com suas famílias, mas logo ao passar da data a sensação de tristeza e desunião retorna. Há ainda aquelas que são diretas e objetivas: é apenas uma época para se celebrar o capitalismo. As mais religiosas vão pregar o verdadeiro espírituo de natal, no nascimento de Cristo e da renovação.

Eu, particularmente, tenho sensações bastante complexas nesta época. Fico completamente sensível (a ponto de chorar em todos os comerciais de fim de ano que passam na televisão), a ponto de olhar para as pessoas passeando pela Avenida Paulista e ter vontade de puxar assunto com todos, a ponto de me emocionar na tradição mais linda de São Paulo: a abertura da gigante árvore de Natal do Parque do Ibirapuera. Do tamanho de um prédio de 27 andares, todos os anos, em uma determinada época, acontece a maravilhosa abertura da árvore, com direito a apresentação de Hebe Camargo, público contagiante e queima de fogos:



Tudo bem, posso concordar com o grupo que fala da hipocrisia, que as pessoas só se unem nesta época, mas, quer saber? Que sejamos hipócritas então! Foi lindo, uma sensação indescritível, estar rodeado de famílias, de casais de namorados, de crianças, de idosos, de novinhos, todos com a mesma sensação, o mesmo espírito, todos gritando e felizes e dando gargalhadas e se abraçando pela simples presença de luzes de natal, pela singela presença de uma árvore de Natal, pela simplória queima de fogos. É preciso tão pouco, mas tão pouco, para as pessoas se inurem. E, no Natal, elas conseguem. E eu acho lindo! Quisera o mundo ser assim todos os outros 11 meses do ano!

domingo, 30 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna





Último capítulo

De um lado, os fãs de Madonna desesperados para que os cambistas não passassem a suas frentes. Do outro, os cambistas que fariam o que fosse necessário para conseguirem entrar primeiro que todos. Na rua, duas viaturas da polícia militar apreciando a confusão sem mover um só dedo. Indo de um lado para o outro, a imprensa, querendo cada simples detalhe para transformar o show de impunidade em audiência. Sentado, chorando, tive que dar entrevistas para a Reuters e para o SPTV da Globo. Só pensava “espero que todos consigam comprar seus ingressos e que ninguém se machuque”.



Não poderíamos fazer mais nada. Não haveria organização, não entraríamos tranquilamente, não usariam nossas senhas. O jeito foi grudar com todas as forças no portão. Tive tempo ainda de encontrar a assessora de imprensa da Time 4 Fun, chorando, descabelado, e pedir para que tudo ficasse bem. Ela, como não poderia não dizer, falou “tudo vai ficar bem”. Mas não ficou. Às 10 horas, os portões se abriram. Primeiro, os gestantes e idosos (impressionante como tantas velhinhas gostavam de Madonnas e como até mesmo um atestado de gravidez surgiu no meio da confusão). Depois, ao menos, conseguir ser o primeiro, e meu melhor amigo o segundo. Nos direcionamos às bilheterias e começou o incasável zigue-zague pelos cavaletes de ferro até chegar nas cabines. Eram por voltas de 50 fileiras que tivemos que percorrer.

Quando estávamos quase chegando, olhamos para trás e aí o cáos se instaurou. Os seguranças não conseguirem mater o portão semi-aberto e a multidão começou a invadir o estacionamento. As pessoas começaram a correr, a pular os cavaletes, a derrubá-los no chão. Pessoas cairam, foram pisoteadas. Guardas gritavam “não corram, não corram, vamos chamar a tropa de choque!”. Tropa de choque? Parecia piada ver meia dúzia de mulheres gritando para não correr, com suas camisetas “Em que posso ajudá-lo?”.

Cheguei a bilheteria e minhas mãos tremiam. Mal consegui escrever meu cpf numa folha q foi me dada e a solicitação de dois ingressos, meia-entrada, para os dias 18 e 20. Logo ao lado da bilheteria, havia uma grande placa informando que vários setores já estavam esgotados. Ou seja, a Time 4 Fun havia mentido ao dizer que as vendas de internet e fone não influenciariam nas vendas de bilheteria. Mais uma vez, os fãs haviam sido enganados.

Quando me direcionei a primeira bilheteria, eu tremia de emoção e de medo. Emoção por compras ingressos, medo porque dezenas de pessoas estavam me xingando, me insultando, dizendo que eu não tinha organizado nada, que só pensava em mim. Meu amigo virou para a multidão e disse “ele por acaso ganhou alguma coisa para fazer o que ele fez por vocês?”. É, era isso que eu queria falar, mas não conseguia. E então fui ameaçado de morte. “Lá fora, você é nosso, então é melhor você se esconder”, “se prepare quando for embora”, “toma cuidado lá fora”, foram algumas das frases que eu ouvi.

- Duas meias entradas, dia 18 e 20!
- Meia entrada acabou!
- Como acabou?!?!?! Vocês acabaram de abrir! Não pode acabar.
- Não sei explicar, acabou…


Entrei em pânico. Havia me programado com meus 600 reais para comprar para dois shows, e sem meia entrada eu só poderia ir em um. Muito triste e querendo sair logo dali, foi o que tive que fazer. Peguei o ingresso e sai correndo para o estacionamento e fiquei esperando meu amigo sair. Quando, encontrei com ele, ouvi a pior coisa que poderia ouvir no momento.

- Comprei minhas duas meias entradas, ebaaaaaa!

Cinco minutos depois de eu ter comprado meu ingresso, misteriosamente as meias entradas foram liberadas. Meu mundo acabou e nunca me sentitão mal em toda a vida. Eu chorava, desesperado, soluçava, não conseguia sequer falar. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Depois de tudo o que passei, por que meu Deus? CInco dias na fila para ter um erro bem na minha vez, o primeiro, e eu não conseguir meu objetivo. Eu chorava, meu peito doia, doia como nunca, meu sonho tinha sido manchado. Tentei conversar com a gerente das bilheterias e o que consegui ouvir foi “é, realmente deu um errinho na sua vez, não sei explicar, coisa de computador sabe, mas fique feliz, ao menos você irá ir em um show!”. Se não fosse pelo meu ataque de choro, talvez eu tivesse dado um soco em sua cara. A vontade era essa, mas as forças me impediam.

Fui vendo meus amigos voltarem das bilheterias todos felizes. Fui vendo os cambistas que me ameaçaram começarem a se aproximar. Fui vendo emissoras de televisão querendo me entrevistar. Fui vendo tudo girar. Fui vendo meu mundo desabafar de uma forma horrorosa. Fui vendo cambistas saindo com 10, 15 ingressos nas mãos. Fui vendo uma polícia não fazer nada. Fui vendo o perigo de ser pego no ponto de ônibus aumentar. Fui vendo algo que eu não queria ver.

Então tive que fugir. Escoltado dentro de um carro de um amigo que fiz na fila, tive que ir embora. O sonho havia acabado. Com um ingresso nas mãos, uma barraca na outra, muitas lágrimas no rosto e a sensação de ter vivido os melhores e os piores momentos na minha vida, o sonho estava acabando, os cinco dias que passei se tornariam passado, as pessoas que eu conheci não dormiriam mais ao meu lado, eu não faria mais reuniões para comunicar algo, eu não passaria mais noites em claro explicando sobre o acampamento.

Olhava pela janela do carro, em silêncio, com lágrimas pesadas nos olhos e não conseguia entender o que tinha acontecido. Não achava respostas, não achava explicações. Eu veria Madonna, mas não da forma que eu queria, em 2 shows. Mais uma vez a justiça falharia no Brasil, no lugar onde as pessoas mal intensionadas se dão muito bem, no lugar onde as pessoas que prezam pelo bem das outras são passadas paratrás. Cambistas venderiam seus ingressos futuramente por 3 mil reais e eu, cinco dias na fila, dando a cara a bater, não conseguiria nem ir aos dois shows que havia me programado, que havia guardado meu rico dinheirinho. Mas isso não ficaria assim, nada apagaria o que eu passei lá, nada mudaria a história. Nada apagaria minha saga “Na fila sem Madonna”



Ps: duas semanas depois, com muita determinação, coragem e senso de justiça, eu consegui trocar meu ingresso inteiro por duas meias entradas. A justiça pode ser falha, mas o amor de um fã é maior! Madonna, dia 18 e dia 20, tenho um encontro com você! Acampar para o show? É, quem sabe comece uma nova saga, quem sabe…