sábado, 29 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 16

No entardecer, peguei carona de carro com um casal que conheci na fila e fiz um rápido bate-e-volta para minha casa. Tomei um banho (gelado, pois minha pele ardia por conta do sol tomado durante o dia), comi comida de mamãe e arrumei minhas malas para grande reta final. Meus pais, preocupados, resolveram me levar de carro de volta à fila, por volta de umas 9 da noite. A cena, logo ao chegarmos ao Credicard Hall, era assustadora. As 300 pessoas que estavam na fila quando eu sai agora já eram mais de 700. A fila, que antes era bem pequena, agora tinha em torno de 500 metros de comprimento, perdia-se na vista.

Pessoas dançando, pessoas cantando, deitadas no chão, rindo, conversando, comendo. Gente de todas as idade, filhas com mães, grupos de amigos, casais de namorados. Reencontrei meus amigos da fila e todos estavam com fisionomias bastante cansadas. Mas, em todos os olhares, todos os sorrisos, a sensação era unânime: nós conseguimos! Conseguimos organizar, conseguimos evitar confusão, conseguimos chegar até aqui, depois de tantos dias pesados no acampamento.



Eu, desde que chegara na fila, nunca havia me sentido tão bem como neste momento. Era delicioso passar pelas pessoas na fila e perceber que todos estavam lá com o mesmo objetivo, tinham a mesma paixão, desejavam a mesma coisa: poder estar mais perto de seu ídolo, de presenciar um show de Madonna, de vê-la, quem sabe pela última vez no Brasil, bem de pertinho. Era uma sensação que só um verdadeiro fã pode sentir e quem não é com certeza acha bobeira. Naquela fila, não haviam diferenças. Enquanto dois meninos se beijavam em uma parte da fila, logo ao lado um casal hetero cantava uma letra da cantora, ao lado uma senhora conversava com sua neta, ao lado um grupo de gays dançava até o chão e alguns heteros entravam na brincadeira sem pensar duas vezes. O pensamento era o mesmo, não haviam diferenças, não havia preconceito, não havia rivalidade. Era mágico, era surreal.

Mas, a tranquilidade durou pouco tempo. O grupo de cambistas aumentou absurdamente. Eles bebiam, falavam palavrão, riam das pessoas, distoavam completamente das demais pessoas. Com medo, muitos acampantes vieram conversar comigo para saber se tudo ia dar certo, porque aqueles homens estavam furando fila, como eles iam resolver. Uma menina me disse também que ouvira dos cambistas que quando os portões abrissem eles iriam atropelar quem viesse pela frente. Preciserei tomar uma atitude.

- Gente, todo mundo, por favor, silêncio. Sério, preciso falar uma coisa!

Em torno de 150 pessoas do pelotão da frente ficaram em silêncio.

- Chegamos à reta final, agora precisamos manter ao máximo a organização. Eu quero que todos, todos mesmo, dirijam-se a suas barracas na ordem da lista montada e eu, com a ajuda de algumas pessoas, vou conferir um por um a ordem de chegada, e quem não estiver na lista vai ter que sair.

Os cambistas então não gostaram da situação, da bagunça que começou a se formar com as pessoas retornando a seus lugares, e então decidiram também agir…

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