domingo, 16 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 9

Foi delicioso comer a comida de mamãe, tomar um banho quente, colocar uma roupa limpa. Mas eu já vivia a emoção da fila, eu já sentia adrenalina de passar noites e mais noites na rua. Não suportava o fato de eu estar em casa, enquanto o acampamento estava lá, a cada instante com possíveis novas pessoas. Acho que o frio da madrugada passada definitivamente tinha afetado meus miolos: saí correndo do conforto de casa pouco tempo depois de chegar. Eu precisava voltar para a fila.

Quando cheguei, quase 1 hora e meio depois, realmente novas pessoas haviam chegado. No entanto, me surpreendi quando vi que o acampamento continuava no mesmo lugar, na rua atrás do Credicard Hall. Eles não haviam migrado para dentro do estacionamento, como havíamos decidido na noite anterior.

- Lacraram os portões! Não podemos mais ficar lá dentro. É aqui ou na Marginal, então resolvemos manter nossas coisas nesta calçada.

Realmente era a melhor opção. Meu amigo Driko ainda não havia chegado, mas, mesmo assim, minha barraca estava lá, intacta. Percebi que o clima de cumplicidade tomava conta daquele ambiente.

Me apresentei às novas pessoas (um ator bem bonito de 30 anos, um menininho japonês de 16 anos, meu amigo de Campinas que eu havia conhecido na comunidade da Madonna, e alguns outros):

- Bom, galera, eu sou o Paulinho, o primeiro da fila, alguns de vocês até já me conhecem pelo Orkut. Nós colocamos uma série de regrinhas no acampamento para preservar a segurança das pessoas e, lógico, não presenciarmos nenhuma injustiça. Ouçam com atenção…

E, detalhadamente, contei aos novos integrantes todas as regras que já havíamos decidido desde o começo. Anotei os nomes na lista, ajudei na montagem das barracas e comecei a conhecer um pouco mais dos meus novos companheiros de “alojamento”. Mas, confesso, que eu estava realmente interessado era mesmo no meu amigo de Campinas.

Eu o via como algo a mais do que um simples amigo. Ele namorava há mais de 1 ano, mas pela Internet havia dados sintomas de que minha relação com ele (dividiríamos a mesma barraca!) seria muito mais do que amigável. Mas, ainda naquela noite, eu ainda teria uma grande surpresa dentro de minha própria barraca, uma noite que eu jamais esqueceria.

Enquanto estava imerso em meus pensamentos, comecei a ouvir uma espécie de pagode, cada vez mais alto. Percebi que a rua começou a ficar com um grande movimento, começamos a ouvir uma série de buzinas, de pessoas gritando. Rebelião? Casamento? Protesto? Não não, era nada mais, nada menos, que o comício do candidato a vereador Netinho de Paula (Domingoooooo da Gentiiiiiiiiii, ele mesmo!), hoje o 3º mais votado da cidade nas últimas eleições.

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