segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna



Capítulo 8

A noite se foi sem maiores emoções. Tentamos ficar acordados, controlando o frio, que beirava a casa dos 10 ºC, e o sono, que já estava bastante complicado. Peguei uma manta que havia levado na mala, sentei na mureta do Credicard Hall, e fiquei contando os minutos passarem. O vento gelado batia nas bochechas do rosto e provocava calafrios em todo o corpo. Foram mais de 2 horas de muita concentração. Tivemos, nesse tempo, apenas mais uma única “visita”.

Dois homens sentados em uma carroça, sendo controlados por um cavalo, passaram pelo acampamento animadíssimos e nos chamaram de “ciganos”, dando altas gargalhadas. Talvez fosse pelo fato do santista ter enrolado sua coberta xadrez de cor laranja em suas pernas e, realmente, estar parecendo um cigano.

Quando o céu começava a dar sinais de que mais um dia iria começar, falei com os meninos que deitaria um pouco na barraca. Coloquei a cabeça em minha mala e em pouco tempo adormeci. Fiquei imóvel durante cerca de 40 minutos, controlando a dor nas costas com o desconforto da calçada. Ao ouvir um caminhão passar na rua a todo vapor, acordei assustado.

Do lado de fora da barraca, ouvi uma conversa em tom de discussão. O santista conversava em uma altura nada amigável com um cara de uns 40 e poucos anos. Mesmo sonolento, ao olhar para ele, já percebi que tinha um jeito de cambista. Eu estava com muito sono, ouvi palavras jogadas na conversa do tipo “cadeia”, “ameaça”, “toma cuidado”. Embora sentisse que o teor da conversa era bastante sério, em tom realmente de ameaça, não dei muita trela O sono falava mais alto. Só horas depois eu saberia que a discussão havia sido bastante feia com o cara, que realmente era cambista e que queria burlar as regras impostas pelo grupo do acampamento, ameaçando as pessoas que já estavam nele.

Mas no momento da briga, eu estava mesmo hipnotizado pelo sol, que aos poucos aparecia no meio do horizonte. Eu nunca havia ficado tão excitado como naquele momento, por conta da simples sensação dos primeiros raios de sol tocando meu rosto. “Eu tenho bochechas novamente”, era tudo o que eu conseguia pensar.
Pouco antes das 8 horas da manhã, quando todos já estavam bem dispostos com o calor do sol e com a ansiedade de voltar novamente para dentro do Credicard Hall, decidi dar um pulo em casa. Fazia dois dias que eu estava sem tomar banho e os primeiros sinais de sujeira (cabelo praticamente black-power e meias com um desagradável chulézinho, eca!) já apareciam.

Ficou acordado que os meninos cuidariam de minha barraca até que o Driko chegasse novamente ao acampamento, como já havíamos combinado. Eu iria para casa, tomaria um banho rápido, comeria alguma coisa saudável e correria de volta para o acampamento, que nesse momento, já deveria estar se formando dentro do Credicard Hall. E lá fui eu para o ponto de ônibus, com a felicidade de quem sentiria as gostas de água quente percorrendo pelo corpo e depois sentaria com mamãe na mesa farta do almoço.

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