domingo, 30 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 18 – Penúltimo

A mistura de sono, cansaço e excitação dominava todos na fila, principalmente no pelotão da frente, com pessoas que há vários dias estavam naquele acampamento. Pela última vez, desmontaríamos as barracas, pela última vez organizaríamos a fila, pela última vez viveríamos todos juntos. Precisou de meia hora para que todas as barracas estivessem já em suas respectivas sacolas e para que uma pilha gigante de lixo (comidas, bebidas, papéis e tudo o que acumulara durante aqueles 5 dias) se formasse.

Mas, a organização, que até então fora impecável, que conseguira fazer uma lista limpa, justa, começaria então a passar pelo pior momento de toda a saga, estava próximo dos desfecho nada triunfante. De meros figurantes, os cambistas invadiram o posto de protagonistas da história e resolveram se pronunciar. Embora tentássemos colocar a fila, agora sem barracas, na ordem da lista, como sempre havíamos prometido, o grupo de cambistas aumentara absurdamente e eles não queriam sair dali.

Enquanto algumas pessoas da lista me exigiam (pois, nessas horas, é melhor exigir dos outros do que encarar a responsabilidade sozinhos) que eu não deixasse os cambistas ficarem na fila, os próprios cambistas se dividiam em opiniões. Uns diziam “aquele menino ali, o primeiro da fila, na frente dele ninguém vai passar tá ligado, e quem passar vai apanhar, pois ele merece mais do que ninguém”, sim, “cambistas honestos”, outros diziam “foda-se essa organização, quando os portões abrirem nós vamos empurrar quem estiver na frente, machuque quem machucar”.

O desespero começou a tomar conta de toda a fila. O empurra-empurra começou a pressionar o primeiro grupo da fila contra os portões. Comecei a ficar sem ar, pois o calor do sol, a essa hora da manhã, já esquentava o portão de ferro, e nossas costas, pressionadas, começavam a sentir toda a temperatura insuportável. As pessoas me pediam com sinais para chamar a polícia, pois a confusão se instaurara de vez, mas dois cambistas foram plantados do meu lado e qualquer gesto que eu fizesse eles ficavam de olhos. Eu estava preso! Toda a organização estava desabando!

No meio da confusão, surgiu uma menina, com cara de mal-encarada, que pediu a minha lista e disse que iria organizar aquela merda. Estranhei a atitude dela, mas eu estava sem forças para fazer mais nada. Ela começou a gritar, pedindo pro grupo de cambistas se afastar. Eles não recuavam e diziam que iam acabar com ela, e ela encarava-os como se não tivesse medo de ninguém.

- Eu vou distribuir senhas individuais para as pessoas da fila e só poderão entrar quem tiver esta senha. Ou seja, quem não estiver na lista (referindo-se aos cambistas) não entrará.

Os cambistas riram com desdém para a atitude dela, e a confusão piorou. Lógico, para piorar ainda mais a situação, a Rede Globo acabara de chegar ao acampamento para filmar ao vivo o programa Mais Você. E, todos sabem, como as pessoas se transformam quando se deparam com a Globo. Tive que segurar minha revolta crescente do fundo da minha alma e tentar ser simpático na entrevista, mesmo tendo vontade de matar o repórter ao ouvi-lo dizer que “não dava para saber quem eram os cambistas” (lógico que dava, era explícito isso!!!! Maldito descompromisso com a verdade!).

Eu, nesse momento, estava chorando, desesperado, com a situação saindo do meu controle, e tive que fazer a linha de “bom entrevistado”, pois não podia alertar ao vivo na Globo à questão dos cambistas pois eles estavam do meu lado com olhos de ameaças. Nunca quis matar tanto a Ana Maria Braga como naquele dia, ela rindo da gente!

Assista o vídeo aqui: http://madworld.com.br/blog/2008/09/03/reportagem-mais-voce-fila-madonna/

A entrevista acabou, a polícia chegou, mas fez cara de paisagem, os cambistas continuaram, agora sem a luz das câmeras, a nos pressionar. Tivemos a informação oficial: os portões seriam abertos às 10 da manhã e a Time 4 Fun não usuaria nossas senhas para a entrada. Ou seja, todo o esforço realizado até então, na próxima hora, seria jogado no lixo…

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