segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 7

Teríamos apenas mais uma visita inesperada naquela madrugada movimentada. Um carro parou à frente de nosso acampamento. Mais uma vez um carro preto, mais uma vez com vidros escuros. Ficamos tensos. Será que eram novamente os cambistas? O vidro se abriu e ouvimos um “Paulinho?”. Uffa! Era alguém conhecido. De dentro do carro saíram três meninos, sendo que o que havia chamado por meu nome reconheci que era um integrante da comunidade da Madonna no Orkut. Durante as semanas que antecederam ao acampamento, por diversas vezes nós havíamos conversado. Nos apresentamos e durante o pouco tempo que nao tive, a princípio, uma boa impressão dele.

- Ficamos sabendo que havia pessoas na fila e resolvemos dar uma passada.
- Mas vocês vão se juntar com a gente ao acampamento?
- Não! Nós vamos comprar pela Internet. Mas estou sossegado, pois já comprei para Nova York e também irei ao show de Buenos Aires, então estou mais tranqüilo!
- Ah…


Não gosto de pessoas esnobes. No frio daquela madrugada, com tudo o que já havíamos passado, a última coisa que eu queria era ver alguém chegar na fila de carro importado, confortável com ar-condicionado quente do veículo e ainda ter que ouvir que a pessoa iria a diversos shows da Madonna. Era um tapa na cara nada agradável.

Ao sair, o menino deixou de lado um pouco o ar de superioridade que ficou evidente, pegou meu número de celular e disse que poderíamos contar com ele para o que fosse necessário. Dei um sorriso, agradeci, mas não estava muito contente com a cena que tinha acabado de acontecer.

Voltamos para nossa roda e continuamos a conversar. Foi então que eu descobri que o Bobby era uma das pessoas mais engraçadas que eu já havia conhecido na vida. Para passar o tempo, ele começou a contar diversas histórias hilárias que já havia vivido.

- Uma vez, eu e minha mulher estávamos passeando em um shopping center, quando vi na vitrine de uma locadora um poster da Madonna. Eu precisava daquele pôster de qualquer forma. Virei para minha esposa e disse “Sandra, você vai entrar naquela loja e vai conseguir aquele pôster para mim, não importa como! Eu estarei esperando na praça de alimentação”. Olha, eu sei que 15 minutos depois que entrou na loja, ela voltou com o poster e meu deu. Eu disse para ela “Sandra, eu te amo, muito obrigado, e não preciso saber como você conseguiu tá, guarda isso para você!”.

Nós quatro já estávamos nos mijando de rir com a história, quando ele disse que não havia acabado.

- Nesse mesmo dia, eu havia prometido para ela que iria acompanhá-la em uma missa do Padre Marcelo. Eu nunca fui muito religioso, mas promessa era promessa né. Estava eu lá com sono, ouvindo a missa, quando o Padre falou para os milhares de fiéis “Agora, é o momento da benção. Eu quero que vocês levantem fotos de parentes ou documentos que vocês desejam que sejam abençoados”. Ahhh, eu não pensei duas vezes! Peguei o pôster gigante da Madonna e ergui com o maior orgulho! Vocês podem rir de mim, mas agora Madonna está lá na parede de casa abençoada pelo Padre Marcelo!!!!!

Minha barriga doía de tantas gargalhadas. A cada vez que eu imaginava a cena do poster sendo erguido, eu caía no chão de tanto rir. E ele contava tudo com tanta naturalidade que ficava mais engraçado ainda. E tinha mais histórias!

- Outra vez eu estava na casa de uns amigos em uma favela, aqui na Zona Sul de São Paulo. Um dos meninos havia conseguido uma fita de vídeo de um show da Madonna. Todos eram gays lá, menos eu. Sempre tive amigos gays, nunca tive problemas com isso. Estávamos em umas 15 pessoas, todas fascinadas com o show, cantando com a apresentação de Vogue. De repente, entram na casa o irmão de um dos meninos e vários homens mal-encarados, eles saem correndo pro quarto e voltam para a sala com várias armas na mão! Eu fiquei congelado, não sabia o que fazer, todos estavam morrendo de medo. Aí os homens saíram da casa e começou um puta tiroteio lá fora. Eu pensei “Pronto, vou morrer ouvindo Vogue, vou morrer com Madonna!”. Mas imaginem no dia seguinte, na capa do jornal, a foto de um monte de homens mortos juntos e na TV tocando Madonna. Eu ia morrer com um monte de viado ao lado e nem poderia explicar que eu era o único hétero ali!!! Depois de morrer, eu viraria gay, era só o que faltava!!!!!

A partir daí eu não tinha mais estômago, de tanto que minha barriga doía de rir.

- Lá em casa já ensinei meu filhinho desde pequeno. Eu digo para ele: “Filho, você tem que amar acima de tudo o papai, a mamãe, a vovó e, lógico, a Madonna!”.

A noite aos poucos foi se passando com o eco de gargalhadas na extensão da rua.

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