terça-feira, 25 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 15

Na hora do almoço, tive um refeição um tanto quanto inusitada. Em plena Marginal Pinheiros, sentado debaixo de minha barraca, sob um sol escaldante, eu e o santista comemos um delicioso frango assado recém comprado na padaria. Sim, com direito a farofa e refrigerante quase quente! Esse foi um presentinho de um senhor que, em troca da ajuda que estávamos proporcionando na organização da fila, ele nos daria comida. Aos poucos, minha barraca ia ficando completamente suja, com pedaços de comida, bebida derramada, dezenas de blusas e malas que eu não fazia idéia de onde tinham surgido, além da básica sujeira provinda da Marginal.

O tempo foi passando, mais pessoas chegando à fila, e o calor insuportável tomou todo o lugar. O sol estava terrível, com um céu azul limpinho, sem nenhuma nuvem. Diferente da primeira fila, onde a temperatura era mais amena, na Marginal a sensação térmica era desesperadora.



Me senti uma espécie de líder espiritual isolado na área de descanso, embora minha aparência descabelada, sujo de graxa e terra ao tentar escalar o canteiro, e com a camiseta enrolada nas costas, estava mais para líder de rebelião de presídio. De vez em quando, alguém da fila atravessava a Marginal para fazer alguma pergunta a mim. Era cômico uma cena cômica que, com o calor, se tornava trágica. Eu, branquelo que sou, não demorou muito tempo para começasse a ficar vermelho. E ardendo! Ainda bem que o ator tinha protetor-solar. Mas, mesmo assim, fiquei com várias manchas na pele. Além disso, com o sol na cabeça, comecei a ficar meio tonto.

Aos poucos, a imprensa voltou a visitar o acampamento. Dei entrevista para o portal IG (veja aqui), para a Globo.com (veja aqui), para a TV Gazeta (veja aqui) e para tantos outros veículos que chegavam ao acampamento procurando por meu nome. Eu, sujo, suado, descabelado, com a boca toda rachada do calor, com as calças “a la pular brejo”, mesmo assim atendia aos jornalistas. Eu sabia que muitas vezes ter que entrevistar alguém nessas condições também não era nada proveitoso.

A fila começou a crescer, o calor começou a ficar insuportável, o trânsito da Marginal começou a ficar mais carregado. Tentamos entrar em contato com a organização do Credicard Hall para fazerem policiamento na fila. Em vão. Eu fiz uma reunião com integrantes da CET para que, ao menos, uma pista da Marginal fosse interditada e que se usassem cones e delimitasse o local. Em vão. Nós estávamos realmente sozinhos. E, aos poucos, o grupo de cambistas na fila, que a princípio era pequeno, misteriosamente estava começando a crescer. E todos estavam percebendo isso! Oas conversas ao pé do ouvido e olhares desconfiados começaram a surgir entre os acampantes, cambistas ou não.

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