sábado, 22 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 13

- Eu tenho uma única certeza: amanhã essa fila vai virar um inferno!
- Sim, todos vão começar a chegar em peso.
- Será que é melhor amanhã à tarde já transferirmos a fila para a Marginal Pinheiros, na frente do portão oficial?
- Acho que de tarde já haverão pessoas lá. Não podemos correr o risco! Precisamos mudar esse acampamento logo pela manhã.
- Mas não será complicado mudar todo mundo junto?
- Não, eu vou coordenar tudo direitinho. Até agora, tudo deu certo, e continuará dando. Amanhã, quando o sol nascer, vamos levantar o acampamento e migrar pra Marginal!

Ficou tudo decidido. Seria a última noite que dormiríamos na fila formada atrás do Credicard Hall. No dia seguinte, véspera das vendas dos ingressos, a quantidade de pessoas na fila iria triplicar e não poderíamos correr o risco de se formar uma confusão. Precisávamos ser ligeiros e, se começássemos a troca logo pela manhã, não haveria a possibilidade de serem formadas duas filas. Seria a terceira e última noite naquela calçada.

Passei de grupo por grupo avisando sobre os novos planos. Para reforçarmos a organização, o Hector, que havia ficado responsável pela lista, começou a passá-la a limpo. Nome por nome, barraca por barraca, grupo por grupo. Todos estariam certos de suas posições e de que a ordem seria mantida.

A sensação da noite era de despedida. Precisávamos aproveitar. Compramos comidas e bebidas e começamos uma festa na própria calçada. A animação era quase unânime. Uns colocavam Madonna no último volume do celular para tocar. Outros brincavam de jogar can-can na calçada. Alguns discutiam sobre os assuntos mais variados possíveis, de Big Brother à eleições presidenciais de 2010. Era bastante engraçado ver todas aquelas pessoas que, dias atrás, nem se conheciam, conversando como amigos de infância.

Durante quase 2 horas a equipe de filmagem da Rede TV nos atormentou, ligando as luzes das câmeras em nossos rostos e pedindo para que déssemos entrevistas a cada 10 minutos. Eu não aguentava mais olhar para o rosto do repórter, que fazia as perguntas mais idiotas possíveis do tipo “você gosta da Madonna?”. Não, não, eu estava lá porque era um hobby acampar nas ruas, nem sabia de quem era o show. Dãrn!

O efeito da bebida subiu ao poucos e eu comecei a ficar alegrinho. Durante horas, me diverti com o Harry, o menino das pulserinhas, fazendo fotos, filmes e dando muitas risadas.



A “ala adolescente” se reuniu dentro de uma barraca, com portas fechadas e iluminada pela minha lanterna, companheira de acampamento, e começou a fazer uma grande bagunça. Fiquei curioso e resolvi entrar para ver o que estava acontecendo.

- Aeeeee, o Paulinho vai entrar no verdade ou desafio!!
- Que? Eu? Não, não tenho mais idade para isso!
- Ah, cala a boca Paulinho, vai brincar sim!

Seria engraçado reviver momentos da minha adolescência com aqueles meninos entre 16 e 19 anos. Verdade ou desafio, uma brincadeira tão clássica em minha vida. Porém, eu não achava que essa “juventude” estava tão, digamos, moderna.

- Desafio você a lamber do pescoço dele até o umbigo!
- Desafio você a deixar um chupão no peito dele!
- Desafio você a sentar no colo dele e dar um beijo demorado de língua!

Minha nossa! Na minha época, o clímax da brincadeira era quando rolava um simples “selinho”. Me senti um idoso perto daqueles meninos. Ainda bem que tive que participar de poucos desafios! (okey, um menino muito abusado me escolheu para…bem, deixa para lá!). Só sei que foi uma beijação, uma pegação, digna da balada mais fervida de Sâo Paulo. Eu, o tiozão da turma, durei pouco na brincadeira, pois o calor de 8 pessoas dentro de uma barraca minúscula me sufocou.

A noite estava gelada, mas a animação durou até altas horas da madrugada. Quando o sono bateu, por volta das 4 da manhã, resolvi ir para minha barraca. Mas, para minha surpresa, ela havia sido invadida por várias pessoas da fila que já estavam dormindo e não haviam deixado nem sequer um cantinho para eu deitar. Tive que me contentar em dividir a barraca da ala adolescente, que até altas horas fez um barulho que só a animação jovial (não era mais meu caso) podia aguentar.

Nenhum comentário: