sábado, 29 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capitulo 17 - antepenúltimo

Quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O clima começou a esquentar entre os cambistas. Os ânimos estavam exaltados. O grupo de cambistas queria ficar na fila e não arredaria o pé dali. O líder deles, um cara de 2 metros de altura, poucos dentes e extremamente bêbado, começou a gritar para todos, dizendo que a fila ia ser respeitada (e nisso, eles se incluíam nela) e que se alguém desrespeitasse as regras (que, no caso, eles já estavam desrespeitando), eles iriam dar “porrada em todo mundo, iriam quebrar tudo, botar fogo, até matar se fosse necessário, que eles não tinham medo de nada”. Com essas palavras bastante “dóceis”, as pessoas começaram a ficar preocupadas, inclusive eu.

Além disso, já passara da meia-noite e as vendas pela internet em São Paulo haviam começado. Embora a Time 4 Fun tivesse divulgado que mais de 20 servidores estariam à disposição para que nada de errado acontecesse nas vendas online (como ocorrera no Rio de Janeiro), de nada adiantou: o site estava congestionado e ninguém conseguia comprar absolutamente nada. Agora era definitivo: durante toda a madrugada, a fila aumentaria de tamanho e as coisas iriam começar a ficar mais feias.

Mas, agora não tinha mais volta, era reta final, só bastava esperar o tempo passar. Falei com o pelotão da frente da fila, onde estavam concentradas as barracas, que nós iríamos desarmar o acampamento por volta das 6 da manhã, assim que o sol nascesse, para que na hora da abertura dos portões (programada para às 8 da manhã) tudo estivesse organizado.

O frio começou a ficar forte durante a madrugada. As pessoas começaram a se recolher em suas barracas, cadeiras, mantas e qualquer cantinho que parecesse um pouco confortável. Diversas emissoras de televisão gravaram em nosso acampamento, inclusive uma repórter da Band que me deixou bastante mal humorado ao me acordar, nos poucos minutos que consegui dormir, com uma puta luz forte na cara e perguntas que nem lembro o que respondi. Após ver a gravação do programa, percebi que quando eu acordo eu fico realmente com voz de drag (com todo o respeito às drags, obviamente) e com cabelo de “fui atropelado”.



Antes de tentar dormir um pouco, resolvi dar uma volta na fila. Percorri os mais de 700 metros de pessoas que se aglomeravam na Marginal Pinheiros. Fui até o fim e lá encontrei um grupo de amigos bastante simpáticos. Era incrível que, com mais de 600 pessoas na frente deles, eles não perdiam a animação. Um deles me reconheceu. “Você é o 1º da fila, que organizou tudo isso?” e eu respondi “sou sim“. Então ele me fez a pergunta que até agora eu não consigo claramente responder. “Mas por que você fez tudo isso?“

Por que? Talvez pela sensação de estar rodeado de pessoas com o mesmo sonho, o mesmo sentimento, a mesma vontade, a mesma euforia, o mesmo fanatismo. Talvez por saber que só um fã conseguiria organizar realmente algo sério, pois se dependêssemos de organizações oficiais e empresas, ficaríamos na mão. Talvez eu realmente tenha surtado. Eu não sabia explicar ao certo, mas adormeci com essa pergunta na cabeça…

6 horas da manhã:

- Acordeeeeem galera, vamos desmontar acampamento, chegou a hora!

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