domingo, 16 de novembro de 2008

Na fila sem Madonna


Capítulo 10

A noite de domingo começou a apontar no horizonte. A cada hora chegavam mais pessoas curiosas em saber o porquê de estarmos lá acampados. Até mesmo um casal que morava na região há 18 anos se sensibilizou com nossa organização e disse que a casa deles estaria aberta para o que precisássemos. “Se quiserem tomar um banho, fazer um miojo, contem com a gente!”. Através deles, fiquei sabendo um pouco da história do Credicard Hall: antes de sua construção, o local abrigava três campos de futebol e um córrego do Rio Pinheiros. Com a construção da casa, tudo foi destruído sem dó!

A ansiedade da noite ficou por conta do início das vendas para os shows no Rio de Janeiro. Nós tínhamos certeza de que o que acontecesse no Rio repercutiria diretamente em nosso acampamento. Por volta da meia noite, chamei uma reunião com todos do acampamento. Ale Jump, o menino que viera visitar a fila na madrugada anterior (que iria nos shows de Buenos Aires e Nova York) ficara de me ligar quando as vendas começassem pelo site.

À meia noite, o telefone tocou. Todos da fila se reuniram a minha volta. Foram minutos e mais minutos de muita conversa, sustos, caras de estranhamento e confirmação do que já imaginávamos: toda a rede estava congestionada, ninguém conseguia comprar nada. Aos poucos, todos começaram a receber mensagens em seus celulares de amigos ou parentes dizendo que estava impossível comprar qualquer ingresso. Agora tínhamos certeza que no dia seguinte o acampamento iria fervilhar.

Seria nossa última noite de “sossego”. Resolvemos comprar bebidas para nos esquentarmos do frio. Eu, fraco para bebida, em pouco tempo fiquei bem alegre (ou “levemente sensual”, como gosta de brincar o Driko, meu amigo). Até enrolei a língua para explicar a dois meninos que chegavam as regras do acampamento. Não era fácil ser porta-voz com álcool no corpo!

Por volta das 2 da manhã, resolvi dormir. Chamei o menino de Campinas para irmos à barraca. Era a hora de descobrir se seríamos mais do que amigos.

“O ator podia também ficar na nossa barraca né, e deixar a barraca dele, que é pequena, para os outros dois meninos que chegaram e estão sem. Eles ficariam mais à vontade e não passariam frio”, me pediu o menino de Campinas. Embora com o pensamento de “ahh, mas íamos ficar a sós”, concordei na hora.

Deitamos os três na barraca: eu em uma ponta, o Campinas no meio e o ator na outra. Virei para a parede, ajeitei as cobertas e me preparei: “agora vou virar, vou abraçá-lo e dormiremos juntinhos”. Então virei e…fiquei em choque! Como eu havia sido ingênuo, não acreditava no que estava acontecendo, não era possível. O menino de Campinas e o ator estavam já meio que abraçados, juntinhos, lado-a-lado, super namorandinhos. Não sabia o que fazer, eu estava sendo “traído” em minha própria barraca. Olhei para o menino de Campinas e apenas consegui dizer “não acredito…”. Ele virou para mim e disse “ahn? não entendi”, virou de lado e dormiu abraçado com o menino.

Senti um letreiro de “idiota” piscando intensamente na minha testa. Deitei de lado novamente e tentei dormir. Mas foi bastante difícil, por dois simples motivos: a sensação de ter um casal ao meu lado “Deus sabe fazendo o quê” (eu não me dignei a olhar) e pelo frio. Sim, frio, pois os dois, na maior cara de pau, puxavam minha coberta e me deixavam tremendo de frio. Em minha própria barraca!!!!! E Deus, lá em cima, ria novamente de mim.

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